sábado, 28 de agosto de 2010

Quando o tamanho é documento

Quando eu fiz vestibular nos idos de mil novecentos e antigamente, mesmo tendo a pontuação necessária para estudar na UFRJ, escolhi a Universidade Federal Fluminense (UFF) porque ficava na minha cidade. A minha amiga de infância optou pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mesmo tendo que sacolejar no ônibus vermelho da ETC (acho que era essa a sigla) até o Fundão todos os dias. Durante o nosso período na Universidade fui conhecer o Centro de Letras e Artes onde ela estudava e se arrependimento matasse, eu teria sucumbido aos 18 anos! Não era remotamente possível comparar as duas instituições, o tamanho e a estrutura da UFRJ massacravam qualquer tentativa de encontrar alguma vantagem na UFF. É preciso registrar que estou falando da UFF no final da década de 1980, não da estrutura que ela tem hoje. Naquele tempo a pesquisa era inexistente, as bibliotecas diminutas e a própria movimentação universitária era frágil. Claro que eu corrigi o meu erro fazendo a especialização e o mestrado no IPPUR da UFRJ, comprovando que a diferença entre as duas instituições era muito maior do que eu imaginava. Hoje eu percebo a mesma diferença na UFPE, constatando que uma universidade grande faz muita diferença para os professores e para os alunos. A maior parte dos meus alunos está envolvida em algum projeto, quase todos com bolsa. Os professores mais antigos reclamam da estrutura o tempo todo, mas temos laboratórios, uma ampla biblioteca, salas temáticas e cada professor tem a sua sala. Sim, estamos amontoados por falta de espaço, mas eu tenho uma mesa e uma estante com livros. No começo do ano recebi um kit de material de escritório, posso solicitar cópias e resmas de papel ao departamento. No intervalo do almoço eu tenho quatro opções de restaurante, nos quais posso escolher comer arroz integral, frango grelhado e uma variedade de saladas considerável, por um preço camarada. Assim que entrei na Universidade, participei de um edital e ganhei um computador e uma impressora a laser para desenvolver a minha pesquisa. A quantidade de eventos, grupos de estudo, projetos é impressionante, quase não dá para acompanhar. Só durante a semana passada, no auditório que fica no corredor da minha sala (exatamente dez passos de distância), aconteceram três eventos diferentes. O resultado de se trabalhar com condições e liberdade para pesquisar vem rápido: projetos com financiamento aprovados, PIBIC, extensão e publicações. Neste caso, o tamanho faz mesmo muita diferença...

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A Origem

Nada do que eu possa dizer sobre o filme A Origem, do diretor, roteirista e produtor Christopher Nolan, será sequer próximo do espetáculo visual de deixar qualquer um boquiaberto. Estou apaixonada pelo filme, mas pode ser porque eu encaro os meus sonhos de maneira muito especial. Meus sonhos são visualmente muito próximos do que é mostrado no filme, também sempre me pergunto (dentro dos sonhos) se o que estou vendo é real ou não. Embora os críticos estejam associando elementos do roteiro ao filme Matrix, eu lembrei da introdução do livro O Oitavo Passageiro, de Alan Dean Foster, na qual o autor descreve a profissão do futuro, os sonhadores profissionais: "Sete sonhadores. Entenda-se que não eram sonhadores profissionais. Os sonhadores profissionais recebem bom pagamento, respeito, são talentos muito bem cotados. Como quase todos nós, estes sete sonhavam sem esforço nem disciplina. Sonhar profissionalmente, de modo que os próprios sonhos possam ser registrados e repetidos para entreter a outros é algo muito mais difícil: requer a capacidade de regular os impulsos criadores semi-conscientes e de estratificar a imaginação, combinação extraordinariamente difícil de obter. Um sonhador profissional é, simultaneamente, o mais organizado de todos os artistas e o mais espontâneo. Trama sutil de especulação não direta, não é tarefa de uma mente torpe como a sua ou a minha. Ou a destes sete sonhadores. Entre todos, Ripley foi a que chegou mais perto de alcançar esse potencial especial. Tinha certo inato talento para o sonho e mais flexibilidade de imaginação que seus companheiros. Mas carecia de verdadeira imaginação e dessa poderosa maturidade de pensamento característica do sonhador profissional." No filme isso sequer é mencionado, mas no livro é estabelecida uma relação entre a única sobrevivente (Ripley) e a sua capacidade de sonhar de forma mais estruturada, aproximando-se dos sonhadores profissionais. Ao assistir o filme do Nolan, tive a impressão que o futuro já chegou porque parecia que alguém tinha gravado um sonho e colocado o filme no circuito comercial. Faz tempo que eu não vejo um roteiro tão complexo e tão livre ao mesmo tempo! Nolan trabalha o roteiro de tal forma que o espectador é convidado a elaborar as suas próprias deduções sobre o que acontece na tela, coisa que parecia impossível. A minha leitura sobre o desfecho do filme (se é real ou não) pode ser diferente das outras pessoas, mas isso não importa, porque a minha conclusão é apenas mais uma possibilidade de autoria. O diretor faz uma afirmação supreendente: “É interessante, porque o cérebro humano costuma ser comparado a um computador, mas a verdade é que é uma analogia muito inadequada, já que o cérebro é capaz de mais coisas do que jamais saberemos. Para um diretor, essa ideia é muito interessante, porque não há regras para o que o cérebro pode criar, e um filme explorando isso seria a maior forma de entretenimento possível”. A minha conclusão é que se podemos transpor barreiras tão resistentes no campo do entretenimento, porque não poderíamos fazer o mesmo com o uso da tecnologia na educação?

sábado, 14 de agosto de 2010

A Universidade Pública no Próximo Decênio

A matéria publicada no site UOL (seção educação), sobre o 1º Ciclo de Debates A universidade pública brasileira no decorrer do próximo decênio, realizado no campus da Unesp na Barra Funda, conclui que a Universidade do futuro será interdisciplinar, a distância e com financiamento público. O crescimento no número de Universidades e a ampliação de vagas, vem propiciando a implementação de modelos alternativos de educação superior pública, com novos formatos de ingresso, currículos flexíveis e estruturas diferenciadas. As instituições que foram criadas agora, já apresentam uma concepção diferenciada em sua estrutura, como é o caso da UFABC, as mais antigas buscam novos modelos para se adequar (um bom exemplo é a organização em consórcios de sete Universidades mineiras para desenvolver atividades acadêmicas em conjunto). Todos estão de acordo com a urgência em se encontrar um novo modelo para o ensino superior que otimize os recursos, contenha a evasão e melhore o ensino e a pesquisa. Segundo os participantes do evento, é preciso ampliar os recursos destinados ao ensino superior, considerado inferior aos países desenvolvidos e que precisa ser ampliado (Gerhard Malnic, da USP) e estruturar cursos interdisciplinares com áreas comuns e disciplinas específicas em caráter optativo (Naomar Monteiro, UFBA). Surpreendentemente, vários participantes concordaram que a educação a distância terá um importante papel na formação e que o uso das tecnologias de informação e comunicação é essencial nas aulas presenciais e na gestão da universidade. Agora, eu gostei mesmo foi do discurso da professora Olgária Matos, que reproduzo a seguir:


Em contraponto ao otimismo de alguns colegas, Olgária Matos, professora de filosofia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), falou sobre a transformação do ensino em mercadoria e o esvaziamento do discurso científico no futuro da universidade. "Na universidade dita moderna, anterior à atual [pós-moderna], não se fazia a pergunta ‘para que serve a cultura?’, tão comum nos dias de hoje. A questão era: ‘de que a cultura pode nos liberar?’." Para a professora, o excesso de pragmatismo da “universidade pós-moderna” a impede de se aprofundar. Sua natureza seria pautada sempre pela mudança incessante de métodos de estudo e pela dificuldade de diferenciar pesquisa e produção. Ela acredita que a aplicação dos mesmos critérios de avaliação de produtividade das áreas de Exatas e Biológicas à de Ciências Humanas é um reflexo desse comportamento. "Exigir que um teórico da minha área, por exemplo, publique dois artigos inéditos todo ano é ridículo. Será que alguém acredita que um pensador pode ter duas ou três idéias brilhantes ao ano?"


Como eu me pergunto a mesma coisa todos os anos, tenho que concordar: abalou, fofa!

domingo, 8 de agosto de 2010

O Fim dos Livros de Papel

O fim dos livros de papel, substituídos pelos e-readers, vem causando polêmica e muitas discussões acaloradas. Na cobertura do evento Techonomy no Caderno de Tecnologia do Jornal O Globo, o idealizador do One Laptop Per Child, Nicholas Negroponte, afirmou que "os livros de papel estarão 'mortos' em cinco anos e utilizou comparações com as câmeras com rolo de filme e música em mídias físicas serviram para reforçar o exemplo. Outro caso é o da própria iniciativa OLPC: é muito mais fácil enviar um laptop com centenas de livros digitais do que a mesma quantidade em papel". Na verdade, não vejo justificativa para tanto alarde, o uso dos livros virtuais já se constitui uma prática comum para todos que estão incluídos digitalmente. Eu tenho mais de cem livros arquivados no meu computador e hoje alterno entre a leitura digital e os livros de papel. Os dois maiores obstáculos para a disseminação dos livros digitais eram a leitura na tela e a indiponibilidade de um acervo organizado. A leitura na tela foi resolvida com a solução e-Ink, eu tive oportunidade de ler no Kindle e realmente não faz diferença do papel. O lançamento de mais títulos digitais está atraindo mais consumidores e os e-readers já se tornaram objetos de desejo. Independente do fetiche da mercadoria, penso que é importante refletir sobre a contribuição da leitura digital para a educação a distância, ou mesmo presencial. A maior dificuldade dos alunos na modalidade a distância reside na transposição das práticas do ensino presencial para o uso das ferramentas tecnológicas utilizadas na EAD. Os alunos sofrem para ler textos em PDF, apresentações e materiais na web. Com a consolidação da leitura eletrônica, a transição entre as diferentes modalidades será cada vez mais sutil, amenizando as dificuldades dos alunos no processo de adaptação. É importante considerar que o uso intenso das tecnologias digitais sempre privilegia áreas do trabalho e do lazer, muito pouco é aplicado de fato na educação. Embora o uso dos livros virtuais não seja diretamente uma inovação voltada para a educação, certamente influenciará nos processos de apreensão do conhecimento, principalmente se conseguirmos romper as barreiras da propriedade intelectual e favorecer o compartilhamento. Isso está acontecendo com obras que já são consideradas como domínio público ou que foram liberadas pelos autores/herdeiros. Algumas experiências já apontam para a aquisição de materiais virtuais (mais baratos) entre os alunos com menor poder aquisitivo. Se o livro digital vai se tornar um meio para a democratização do acesso ao conhecimento e o livro de papel será um luxo no futuro, dependerá de como vamos nos mobilizar para isso. É justamente aí que está o pulo do gato!


# Feliz dias dos pais para os leitores queridos, quem sabe algum felizardo não ganhou um e-reader de presente hoje? :)

Update: Entrevista sobre o futuro do livro com Jean Paul Jacob, pesquisador emérito da IBM: “O livro de papel nada mais é do que tinta sobre árvore morta. Chamar isso de tecnologia é um insulto para mim”.

sábado, 7 de agosto de 2010

Projeto de Pesquisa Aprovado no CNPq!

Semana passada saiu o resultado do PIBIC e fiquei toda fofa com a aprovação do meu projeto. Ontem saiu o resultado do Edital 02/2010 do MCT/CNPq/MEC/CAPES (Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas) e tcham-tcharam... meu projeto foi aprovado, com financiamento! O projeto Letramento Digital, Autoria e Colaboração em Rede: Os professores da Educação Básica e o Papel das Licenciaturas a Distância na Apropriação das Tecnologias Digitais, é a continuação da minha tese de doutorado e tem como objetivo geral investigar as mudanças paradigmáticas na prática docente dos professores da rede pública concluintes de cursos de Licenciatura a distância, a partir da apropriação dos dispositivos tecnológicos e consolidação da cultura digital, através da utilização das ferramentas de autoria da chamada Web 2.0. Segundo o CNPq, foram aprovados 604 projetos de pesquisa para o desenvolvimento científico, social e tecnológico do País, no âmbito das Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas. Ao todo serão investidos R$ 8 milhões, sendo 50% da CAPES e 50% do CNPq. Mesmo o meu financiamento sendo um ínfima parte dos recursos totais do projeto (mas ainda assim vou poder comprar equipamentos, fazer viagens e contratar serviços de terceiros), estou dançando nas nuvens porque tudo o que sempre acreditei que poderia realizar na minha vida profissional está se concretizando. E muito mais rápido do que eu imaginava!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A Poesia do Deserto

Depois da minha experiência na pequisa dos desertos do mundo (que inclui desertos quentes e frios e, acredite, eles são muitos), eu fiquei fascinada pela riqueza dos desertos. Quando eu li Terra dos Homens, de Saint-Exupéry, o fascínio se traduziu em poesia e eu descobri que outras pessoas também se sentiam atraídas pelo deserto. Exupéry também aborda o deserto no seu livro mais famoso - O Pequeno Príncipe - e muitas passagens dos seus livros são auto-biográficas, já que ele foi piloto de correspondência nas rotas dos desertos durante muitos anos. Para ele, o deserto é poesia e amor:


Entretanto, amamos o deserto. Se no começo ele é apenas solidão e silêncio é que não se entrega aos amantes de um dia.(...) Nada nos adiantaria visitar a sua cela. Ela está vazia. O império do homem é interior. Assim também o deserto não é feito de areia nem dos tuaregues nem dos mouros armados de fuzil... As areias são, a princípio, desertas. Mas vem o dia em que, temendo a aproximação de um rezzou, vemos, naquelas areias, as dobras do grande manto em que ele se envolve. E assim o rezzou também transfigura as areias... Aceitamos as regras do jogo: o jogo nos faz, agora, à sua imagem. O Saara, é em nós que ele se mostra. Abordá-lo não é visitar um oásis. É fazer de uma fonte, nossa religião.


SAINT-EXUPÉRY, A. Terra dos Homens. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Pesquisa de Vento em Popa

O semestre 2010.2 está prometendo, vou conseguir um aumento significativo no volume de pesquisa e publicações. Além da pesquisa aprovada ano passado no edital da Propesq, estou envolvida com o Programa UCA que envolve vários pesquisadores da UFPE e da UFPB. Semana passada consegui aprovação no PIBIC com o projeto Programa um Computador por Aluno: contexto das escolas públicas em Pernambuco e na Paraíba. Além dos pojetos aprovados, ainda estou com duas propostas em fase de análise no CNPq. Todos os projetos de pesquisa estão vinculados ao Grupo Gente (Gupo de Pesquisa em Novas Tecnologias na Educação) e para compartilhar os resultados do nosso trabalho, foi criado um site do grupo. O site ficou lindo (by Amanda Costa, nossa concluinte do curso de Pedagogia), adorei a possibilidade de vincular as redes sociais ao site. Estou com uma carga de disciplinas grande neste semestre, mas já organizei o meu horário para dedicar dois dias integralmente aos projetos. É preciso muita determinação e disciplina para não deixar a rotina prevalecer e impedir a produção acadêmica. Entre barlaventos e sotaventos, o segredo é não ficar à deriva...

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