segunda-feira, 28 de abril de 2014
Programação da 3ª Conferência Internacional de Cinema de Viana
domingo, 27 de abril de 2014
sábado, 26 de abril de 2014
No Porto
As cidades exercem um fascínio tão grande em mim que fui estudar e escrever sobre o urbano durante um bom tempo da minha vida. Conhecer o Porto tem sido uma experiência única e difícil descrever. Uma aluna referiu-se ao Porto como uma cidade encantadora, uma reportagem para turistas fala em cidade mágica, a sua história é fantástica, a sua geografia é surpreendente com suas pontes em grandes alturas e penso que é tudo isso e muito mais. Tenho certeza que a J.K. Rowling criou o beco diagonal em Harry Potter inspirada no tempo em que morou aqui! Foi difícil conciliar a necessidade de desvendar a cidade ao mesmo tempo em que eu tinha que concluir as pendências burocráticas e operacionais para viver aqui. O processo de instalação para morar em outro país não é fácil, mesmo que seja por um tempo determinado. Tudo acontece ao mesmo tempo: procurar casa, escola, panela, providenciar documentos, participar de eventos... Creio que levei um mês para ajustar a rotina e equilibrar as tarefas. Eu tive muita sorte em ser tão bem recebida pelo meu orientador do pós-doc, ele merece um post só para falar sobre as suas qualidades, mas basta dizer que ele fez com que eu me sentisse em casa. Nada e fácil: o frio é impiedoso, a chuva é irritante, alugar casa não é tão simples quanto parece e você frequentemente estará dentro de um círculo de obstáculos que mais parece uma armadilha. Apenas um exemplo: você não pode alugar casa se não tiver o NIF (o nosso CPF no Brasil), mas não pode tirar o NIF se não tiver um comprovante de residência no seu nome! Hã? A solução foi pedir, muito sem graça, para o meu orientador se responsabilizar por mim na Secretaria da Fazenda. Além de discutir questões acadêmicas e enfiar antropologia visual na minha cachola (que já não é mais a mesma faz tempo), o coitado ainda teve que ser meu responsável fiscal! Depois das contas devidamente prestadas para a Capes, filha matriculada na escola e as mínimas (mesmo!) condições de sobrevivência garantidas, pude começar a me dedicar aos estudos e ao campo de pesquisa. Estou encantada com a antropologia visual e aprendi muito sobre a etnografia virtual nos últimos dois meses. Em cada passo que eu dou, penso em como poderei ser útil para os meus alunos e orientandos. Espero multiplicar tudo que estou aprendendo muitas e muitas vezes... As coisas que tenho aprendido com o Professor José Ribeiro no campo teórico e metodológico são muito importantes, mas as coisas que ele tem me ensinado sobre generosidade, história de vida e conhecimento, são essenciais!
quarta-feira, 23 de abril de 2014
A senhora é qualificada?
A pergunta pode parecer estranha, mas foi o que me disse a funcionária do consulado quando entreguei TODOS os documentos exigidos. Menos o diploma do doutorado, é claro! Eu queria muito saber porque algumas pessoas pensam que existe glamour em estudar em outro país. Claro que a experiência é válida e importante, mas o caminho até o nirvana acadêmico é longo e tortuoso, principalmente quando o país de destino parece não querer você lá. O centro do problema está em colocar na mesma condição todas as pessoas que solicitam o visto, seja para estudar, trabalhar ou viver. Você tem que comprovar os meios de subsistência (ok, eu tinha a carta de Capes), o seguro no valor de 30.000 euros (ok, não vou onerar o seu sistema de saúde), comprovante de alojamento (mas eu vou ficar seis meses, tenho que alugar uma casa quando chegar lá!), comprovante de que não tem antecedentes da polícia federal (não vale o da Internet, tem que ser assinado, carimbado e com firma reconhecida!) e mais outros tantos papéis que eu não me lembro. Não pedia o diploma, eu tenho certeza, mas foi solicitado depois da segunda vez em que estive lá. Detalhe: com reconhecimento de firma do reitor, pró-reitor ou sei-lá-quem que tenha assinado o maldito! Voltei para casa, fui até a universidade para saber em quais cartórios os gestores da época tinham firma, fui até o cartório, paguei o reconhecimento de firma e voltei. De novo. Foram três tentativas para conseguir despachar o pedido de visto para Salvador. Me cobraram a taxa de visto de residência temporária, embora o site afirme que existe isenção para quem vai fazer estudos de investigação altamente qualificada, paguei pelo reconhecimento da firma reconhecida no diploma (é isso mesmo!), ouvi reclamação até por ter feito a reserva do hotel pela Internet (oi? Que ano é hoje?)! Pelo visto, não sou tão qualificada assim, vocês não acreditariam nos questionamentos:
- Pós-doc? Como assim? A senhora é qualificada? Tem que apresentar um documento mostrando que a senhora tem condições de proceder com a investigação!
- Mas eu trouxe a carta da Capes! disse eu atônita. O pedido é para um pós-doc (o que pressupõe que eu seja qualificada) e a carta é bem explícita no seu conteúdo e serve exatamente para solicitar o visto e resolver os problemas burocráticos.
- Capes? Ahn... Isso é só um órgão do governo que financia a sua pesquisa, não serve. A senhora precisa comprovar a sua qualificação!
É isso, senhoras e senhores, a Capes é APENAS um órgão do governo... Eu só lembrava da minha querida Thelma Panerai que volta e meia é punida em suas viagens por causa da sua indignação. Recolhi a minha irritação e fui providenciar os documentos exigidos. Depois de entregar tudo, fiquei em dúvida se daria tempo, a passagem estava comprada (porque eles exigem isso para fornecer o visto). A funcionária disse que nada era garantido e que se o visto não fosse entregue no prazo, eu teria que trocar a passagem. Simples assim! Perguntei se eu poderia ligar para Salvador para acompanhar o processo. Ela disse que eles não forneceriam nenhuma informação, que nem adiantava tentar. - A senhora vai ter que esperar, concluiu, seca, amargurada e sem nenhuma intenção de facilitar a minha vida. Passei as quatro semanas seguintes estressada, correndo atrás das outras pendências e morrendo de medo de tudo dar errado. No auge da minha angústia, resolvi ligar para Salvador, morrendo de medo de receber uma resposta atravessada. Vai que eles cancelam o meu visto por causa disso? Liguei e para a minha surpresa, já no menu existia uma opção para acompanhamento dos pedidos de visto. Ué, mas ela não me disse que eles não forneciam informações por telefone? Atendeu uma mulher, gentil, simpática e prestativa. Disse que o visto já tinha sido aprovado e que seria despachado uma semana antes da viagem. Eu podia ligar no dia previsto para o envio para saber. A funcionária não deve ter entendido nada porque eu agradeci quase chorando, muito obrigada, minha senhora, muito, muito, obrigada! Desliguei e dancei pela sala, feliz da vida e encantada com o tratamento! Mas vamos supor que eu estivesse sendo dura e ressentida, vamos supor que eu dei sorte naquele dia e peguei uma funcionária inexplicavelmente amável. Liguei de novo no dia combinado e foi um homem que atendeu. Perguntei sobre o visto e ele foi tão (ou mais) simpático quanto a outra funcionária, disse que o visto tinha sido despachado e já tinha sido entregue no Recife (mas ninguém do Recife me ligou para avisar). Terminou a ligação com um "pode ir lá buscar, Pimentinha!". Fui buscar o visto dois dias antes da viagem e acreditando que eu apenas dei azar nas TRÊS vezes em que estive no consulado. Ledo engano... Cheguei lá e encontrei o mesmo tratamento. Passei a mão no passaporte e fui embora com uma certeza: tomara que eu nunca mais precise voltar aqui!