segunda-feira, 27 de abril de 2020

Fim da sexta semana de isolamento

Quase um mês e meio de isolamento e suspensão das atividades acadêmicas e já começo a ficar impressionada com a capacidade de adaptação do ser humano. Claro que ainda existem pessoas que resistem e não querem aceitar que o mundo mudou e todas as relações terão que ser reinventadas. Algumas pessoas insistem em reclamar de bobagens, outras já perceberam o profundo nó em que a vida se transformou e iniciaram o seu processo de adaptação. A cada semana que o isolamento se impõe e o número de mortes se anuncia, temos hoje mais de 66 mil casos confirmados e 4.043 mortes, o garrote da realidade aperta um pouco mais e vamos buscando saídas possíveis para lidar com tudo isso sem perder a sanidade. O que era impossível em março já se torna plausível hoje e viável amanhã. Usar máscaras nas ruas e nos estabelecimentos que ainda estão abertos não é mais uma escolha, é lei. As escolas estão se reorganizando e buscando alternativas, o comércio já aceita pedidos de qualquer produto e entrega em casa sem custo. Temos promoção de comida em restaurante chique, descontos e mais prazo para realizar pagamentos. Todo mundo começa a reorganizar a vida em outros parâmetros já que a vida antiga não é mais possível. Na UFPE, faço parte de um grupo chamado SPREAD que está pensando em soluções, organizando materiais, pesquisando plataformas e produzindo cursos, com o desafio urgente de encontrar alternativas e formar pessoas. É um esforço coletivo de pessoas que estão doando o seu tempo e seu conhecimento para ajudar a mudar o cenário sombrio que vemos hoje. E vamos nos adaptando, torcendo para que as soluções funcionem e que possamos aprender alguma coisa com tudo isso. Tenho visto correntes de solidariedade surgindo e muita repulsa por qualquer gesto irresponsável que afete o coletivo. Vamos nos humanizando de alguma forma porque não existe saída que não seja coletiva, não existe dinheiro que garanta imunidade e salvação. É certo que o número de pessoas pobres que morrem é maior, mas tampouco os ricos escaparão ilesos. Termino a semana de isolamento com a percepção apurada e parece que algo está mudando... Termino esse post com o registro do belíssimo encontro do grupo de pesquisa Gente do Edumatec da UFPE. Algumas pessoas percebem a música, eu percebo a esperança...

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Fim da quinta semana de isolamento

A última semana foi menos tensa, apesar dos números assustadores com a expansão da doença e o aumento exponencial das mortes. A cada momento ficamos menores e mais inseguros diante de um cenário caótico com políticas desencontradas ancoradas em muita suposição e pouca ciência. O volume de trabalho não diminuiu, embora algumas tarefas tenham sido concluídas com sucesso. As universidades começaram a pensar em alternativas para a realização de aulas remotas e isso implica em muito trabalho e novas configurações para a prática docente. Na realidade, a cada dois passos que damos para frente, andamos três para trás porque os processos burocráticos e as práticas dos professores foram construídas e somente para o presencial. Temos também a dificuldade de compreensão dos professores sobre o uso de tecnologias como instrumento de mediação para a aprendizagem está fundamentada em preconceitos com a modalidade a distância. São muitos desafios e inúmeras possibilidades, mas penso que quanto mais tempo demorarmos para enfrentar a questão, mais difícil será para organizar uma proposta viável de trabalho remoto para as atividades de graduação e pós-graduação. Independente dos diferentes posicionamentos sobre a adesão ou não ao formato remoto para retomarmos as aulas, penso que o contexto da pandemia torna qualquer previsão impossível. No momento atual, não temos a menor possibilidade de voltar para a nossa rotina nos próximos meses. Uma previsão otimista indicaria o retorno no final do ano, mas provavelmente não teremos aulas presenciais antes do próximo ano. Isso significa que teremos que pensar em alternativas para não suspender completamente as atividades de aula durante um tempo muito longo. Esse distanciamento das atividades acadêmicas tem implicações na vida dos alunos que precisam ser consideradas com cuidado, desde o atraso no prazo de conclusão do curso, até questões relacionadas com o pagamento de bolsas. Além das questões acadêmicas e financeiras, temos também o aspecto relacionado com a saúde mental dos alunos em isolamento social. A insegurança em relação ao contexto atual e ao futuro, comprometem o equilíbrio mental das pessoas, especialmente os alunos que estão em processo de formação. Esse entendimento foi adotado por universidades de outros países que também foram impactados com a pandemia e buscam alternativas e caminhos para desenvolver novas abordagens e dar continuidade ao processo formativo em seus diferentes níveis. Felizmente, estamos caminhando nessa direção e sabemos que temos muito trabalho pela frente, mas é preciso enfrentar esse momento com coragem e muita disposição. Se o futuro é incerto, cabe a nós trabalhar para viabilizar o melhor cenário possível.

domingo, 19 de abril de 2020

Fim da quarta semana de isolamento

Seguimos em isolamento, embora seja visível que muitas pessoas já voltaram a circular nas ruas, mesmo com todo o comércio fechado e os ônibus sem circular. Foi uma semana difícil porque a realidade da pandemia deixou de ser apenas números e começou a ganhar nome. Meu amigo e orientador de pós-doc que passava uma temporada no Brasil, não conseguiu embarcar para Portugal porque os voos foram cancelados. Acompanhamos a angústia dele em não saber se conseguiria voltar para casa em um momento tão delicado. Ficamos apreensivos por sua idade e pelas condições de acesso ao serviço de saúde. Quando acessei o site da embaixada para buscar alguma orientação, li uma nota de aviso informando que todos os cidadãos portugueses deveriam do país o mais rápido possível. Várias embaixadas estão recomendando a mesma coisa, inclusive de países com muitos mais casos notificados do que o nosso e mais uma vez surge o medo: o que eles sabem que nós não sabemos? Na véspera do domingo de Páscoa, precisamos usar os serviços de um amigo que está com o seu negócio fechado. Fomos atendidos rapidamente e ao chegar em casa, recebi uma mensagem de agradecimento no celular. Ele disse que nós nunca poderíamos imaginar o quanto o ajudamos naquele momento e que ele desejava uma Páscoa abençoada para nós. O desespero implícito naquela mensagem de agradecimento foi um soco no estômago e desvelou a realidade de muitas pessoas que dependem da prestação de serviços. É importante registrar que o nosso amigo, com todo o seu desespero financeiro, não é a favor do fim do isolamento e sabe perfeitamente a gravidade da situação. No começo da semana, soubemos que uma aluna da pós-graduação perdeu o filho de 17 anos, vitima da COVID-19. Quatro dias depois, os jornais noticiaram a morte de um ex-aluno do Edumatec de 42 anos, também vítima da doença. A realidade do peso da pandemia caiu sobre nós e o sentimento de impotência e angústia foi enorme enquanto eu escrevia uma nota de pesar para publicar no site do programa. Assistimos incrédulos as manifestações odiosas de uma elite ignorante que quer seus serviçais de volta enquanto desfilam isolados em seus carros caríssimos. Sabemos que a situação é muito mais grave e que os números não retratam a realidade em função da subnotificação e da falta de testes. Já sabemos que o ano letivo está perdido e que vamos demorar anos para retomar o que chamamos de normalidade. A única coisa que não sabemos é como as relações interpessoais e a dinâmica do cotidiano irão se remodelar diante de tantos desafios. A esperança é que sejamos melhores, mais solidários e empáticos, mas o receio é que nos tornemos o nosso maior pesadelo. Fiquem bem, fiquem em casa!

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Fim da terceira semana de isolamento

Ao fim dessa terceira semana de isolamento, o estresse se instalou por diferentes motivos, colocando na berlinda a minha capacidade de ser equilibrada e, sobretudo, paciente e educada. Tem sido difícil lidar com a falta de flexibilidade das pessoas que gerenciam a burocracia, seja por ignorância, necessidade de poder ou burrice mesmo. Recebi na mesma semana dois pedidos que pareciam ter saído do armário de Nárnia e não de uma situação de pandemia: um pedido de ata de reunião presencial quando todos sabem que a universidade está com as atividades suspensas e a exigência de uma assinatura na ata de defesa de mestrado do examinador que participou virtualmente da banca. É preciso apelar para a paciência e o bom senso nessas horas e eu estou apelando muito... Meu apelo é para que as pessoas entendam que vivemos tempos completamente fora da normalidade e que estamos em guerra contra um inimigo letal que não podemos ver e do qual o presidente do país faz piada, dizendo que ele não existe. Não é possível que a burocracia vá causar mais estresse aos nossos professores e alunos além da carga extrema que sofremos todos os dias ao ver que a contaminação se multiplica e o número de óbitos só faz crescer. Tive uma crise de pânico no supermercado na última segunda-feira, é difícil ver as pessoas sem tomar qualquer precaução, insistindo em se aproximar mais do que o necessário e agindo como se não houvesse nenhum risco em andar pelas ruas. É angustiante saber que as manicures do pequeno salão perto da minha casa estão passando dificuldades e sem perspectiva de qualquer ajuda. Por fim, é arrasador receber a notícia de uma aluna nossa que perdeu o filho de 17 anos por insuficiência respiratória, mesmo que o resultado para o COVID-19 tenha sido negativo. Estamos condenados não apenas a ficar dentro de casa por um longo período, mas a viver com medo, ansiosos e inseguros sem saber o que o futuro nos trará. Vamos fazendo o que é possível, ajudamos um, nos preocupamos com o outro, oferecemos apoio ao terceiro, confortamos quem precisa... Fazemos tudo isso sem ter qualquer resposta sobre como será o nosso mundo amanhã. A única coisa que eu sei é que é impossível olhar para trás.

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