Seguimos em isolamento, embora seja visível que muitas pessoas já voltaram a circular nas ruas, mesmo com todo o comércio fechado e os ônibus sem circular. Foi uma semana difícil porque a realidade da pandemia deixou de ser apenas números e começou a ganhar nome. Meu amigo e orientador de pós-doc que passava uma temporada no Brasil, não conseguiu embarcar para Portugal porque os voos foram cancelados. Acompanhamos a angústia dele em não saber se conseguiria voltar para casa em um momento tão delicado. Ficamos apreensivos por sua idade e pelas condições de acesso ao serviço de saúde. Quando acessei o site da embaixada para buscar alguma orientação, li uma nota de aviso informando que todos os cidadãos portugueses deveriam do país o mais rápido possível. Várias embaixadas estão recomendando a mesma coisa, inclusive de países com muitos mais casos notificados do que o nosso e mais uma vez surge o medo: o que eles sabem que nós não sabemos? Na véspera do domingo de Páscoa, precisamos usar os serviços de um amigo que está com o seu negócio fechado. Fomos atendidos rapidamente e ao chegar em casa, recebi uma mensagem de agradecimento no celular. Ele disse que nós nunca poderíamos imaginar o quanto o ajudamos naquele momento e que ele desejava uma Páscoa abençoada para nós. O desespero implícito naquela mensagem de agradecimento foi um soco no estômago e desvelou a realidade de muitas pessoas que dependem da prestação de serviços. É importante registrar que o nosso amigo, com todo o seu desespero financeiro, não é a favor do fim do isolamento e sabe perfeitamente a gravidade da situação. No começo da semana, soubemos que uma aluna da pós-graduação perdeu o filho de 17 anos, vitima da COVID-19. Quatro dias depois, os jornais noticiaram a morte de um ex-aluno do Edumatec de 42 anos, também vítima da doença. A realidade do peso da pandemia caiu sobre nós e o sentimento de impotência e angústia foi enorme enquanto eu escrevia uma nota de pesar para publicar no site do programa. Assistimos incrédulos as manifestações odiosas de uma elite ignorante que quer seus serviçais de volta enquanto desfilam isolados em seus carros caríssimos. Sabemos que a situação é muito mais grave e que os números não retratam a realidade em função da subnotificação e da falta de testes. Já sabemos que o ano letivo está perdido e que vamos demorar anos para retomar o que chamamos de normalidade. A única coisa que não sabemos é como as relações interpessoais e a dinâmica do cotidiano irão se remodelar diante de tantos desafios. A esperança é que sejamos melhores, mais solidários e empáticos, mas o receio é que nos tornemos o nosso maior pesadelo. Fiquem bem, fiquem em casa!
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