terça-feira, 28 de julho de 2020

Chamada para publicação da Revista Em Teia

Segue a chamada para o número temático da Revista Em Teia, qualis B1 na área de Ensino, do programa de pós-graduação em Educação Matemática e Tecnológica da UFPE: A suspensão das aulas presenciais em todos os sistemas de ensino, no Brasil e em vários países do mundo, resultou em alternativas diversas para a realização de aulas mediadas com o uso das tecnologias digitais. Surgiram discussões sobre as diferenças entre Educação a Distância, Educação Online e Aulas Remotas. Neste sentido, acreditamos que as questões sobre o uso das tecnologias digitais no contexto da pandemia exigem um olhar detalhado a respeito das relações que envolvem os processos de ensino, aprendizagem, comunicação, interação e interatividade, apropriação tecnológica, além das questões relacionadas ao fazer pedagógico, às práticas docentes, às condições de trabalho, à saúde mental e aos aspectos éticos. A complexidade da teia de elementos que estão imbricados neste processo exige um esforço coletivo para pesquisar, analisar e entender as relações entre os diversos elementos que atuam neste momento e as consequências que enfrentaremos nos próximos anos, considerando o atual cenário da pandemia. Neste sentido, convidamos os pesquisadores das diferentes instituições a colaborar com o número temático Educação e uso de tecnologias digitais no contexto da pandemia da Covid 19. O prazo de submissão dos artigos será até o dia 10 de agosto de 2020 e as orientações de submissão para os autores estão na página da revista.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Quatro meses de isolamento social

Ontem chegamos aos quatro meses de isolamento com mais de 76 mil mortos e mais de 2 milhões de pessoas contaminadas. Enquanto os casos no Brasil não param de crescer, várias cidades ensaiam a reabertura do comércio e anunciam a volta das aulas presenciais, contrariando todos os estudos científicos e as recomendações da OMS. Na minha cidade abriram os shoppings, mas caminhar na areia da praia continua proibido. A maior parte das pessoas que circula nas ruas usa máscara, mas é possível encontrar pessoas sem usá-las ou criando confusão porque são obrigadas a entrar nos estabelecimentos usando a máscara. O mais grave é que não podemos nos iludir, as pessoas que querem garantir o seu direito de não usar a máscara de proteção hoje e até entram na justiça para isso, certamente lutariam em um segundo momento para que as outras pessoas também não usassem, alegando segurança, desconforto ao ver alguém de máscara ou até mesmo porque as pessoas precisam perder o medo de um vírus que não existe. A ignorância das pessoas é ilimitada.

A irritante resignação ao "novo normal", como se fosse possível naturalizar as mortes, o desemprego e as limitações que a pandemia nos impõe, é deprimente. Por outro lado, também temos a resiliência e a tranquilidade das pessoas que buscam soluções e continuam firmes na luta por uma sociedade melhor. Retomaremos as aulas da graduação de forma remota na UFPE a partir do dia 17 de agosto e, enquanto colunistas escrevem textos agressivos nos jornais questionando a lentidão das decisões na universidade públicas, colegas que são contra as aulas remotas atacam sem o menor senso de civilidade os que acreditam que é necessário fazer alguma coisa, inúmeras consultas são realizadas com professores, técnicos e alunos e a falta de compreensão sobre a gravidade e duração da situação se assemelha aos grupos do WhatsApp que negam a pandemia ou que acreditam que o vírus é uma conspiração do governo chinês. As pessoas não mudam, elas apenas se revelam em tempos difíceis. Penso que tudo está sendo testado, a ética profissional, o compromisso social, as relações de trabalho, as relações familiares, as amizades... Algumas se consolidarão e até se transformarão em algo melhor, outras serão desintegradas. Eu compreendo os dois movimentos como resultado da natureza humana, as relações sólidas vão se adaptar e reorganizar, as relações frágeis ou mobilizadas por interesses, irão de esfacelar não por causa da pandemia, mas sim porque a crise trouxe à tona o que cada um tem a oferecer de verdade. Não há mais tempo para exibir apenas o verniz polido e a capa da boa educação, o medo da finitude revela o que temos na alma. Percebo essa desintegração das pessoas com tanta clareza como se fosse algo sólido e, embora não seja algo bonito de se ver, é necessário enfrentar todos os desdobramentos que a pandemia provocou na nossa tessitura social e nas nossas relações cotidianas. Como eu descobri há alguns anos, a vida é um fio, então viva o seu tempo da melhor forma possível.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Black Mirror e Educação

Quem diria que a realidade ficaria muito mais estranha e assustadora do que os episódios de Black Mirror? Nós intuíamos que o futuro seria sombrio e que a apropriação equivocada das tecnologias digitais poderia nos confrontar com dilemas éticos, morais, filosóficos e até mesmo com a própria morte, mas nem de longe imaginávamos que a ameaça de um futuro distópico pudesse estar tão próxima de nós. Não tivemos que esperar muito para viver uma situação que serviria perfeitamente para qualquer episódio de Black Mirror. Eu diria até que seríamos capazes de murmurar um "que exagero dos roteiristas" depois de assistir um episódio que retratasse a realidade em que vivemos hoje...

Bom, muito antes de existir qualquer suspeita de uma pandemia no horizonte, quando ainda vivíamos a liberdade de não ter medo de morrer contaminados por um vírus, a Revista Communitas elaborou um dossiê temático chamado Black Mirror e Educação, publicado no final do primeiro semestre de 2020. Os organizadores, Felipe da Silva Ponte de Carvalho, Edméa Santos e Tania Lucía Maddalena, reuniram uma coletânea de textos muito interessante que estabelece pontes entre os diferentes contextos do uso das tecnologias digitais na série com os paralelos e potencialidade da Educação. Foram construídas pontes maravilhosas entre questões éticas, pedagógicas, estruturais e emocionais que permeiam o uso das tecnologias digitais no contexto da sala de aula. Muitas coisas discutidas nos textos estão vindo à tona e se materializando nos obstáculos das aulas remotas adotadas em várias redes e níveis de ensino.

Eu e Thelma Panerai contribuímos com o artigo “A SÉRIE BLACK MIRROR E OS ELEMENTOS DA NARRATIVA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CONTEXTO DA CULTURA DIGITAL”. Vou transcrever o trecho da apresentação redigido por Rafael Marques Gonçalves sobre o nosso artigo: "Thelma Panerai Alves e Ana Beatriz Gomes Carvalho mostram que a apropriação social das tecnologias, por parte dos professores, e a ampliação da cultura digital operam no sentido de empoderá-los para o compromisso político e cidadão, individual e coletivo, de lutar por questões fundamentais da sociedade. Neste viés, as narrativas da série Black Mirror favorecem inúmeras reflexões sobre o uso das tecnologias digitais, que reconfiguram as relações das pessoas com as coisas, com os processos e com as demais pessoas. Esses elementos da série podem contribuir para a construção das narrativas digitais dos professores e seu processo de consolidação da cultura digital". O editorial de Rafael Gonçalves foi escrito já no contexto da pandemia e logo no início já encontramos a hashtag #ficaemcasa, reproduzindo na introdução e na conclusão do texto, a angústia de todos diante das incertezas cotidianas da atualidade. Sim, a realidade é muito Black Mirror e não tem nada de positivo nisso!

Referência do artigo: CARVALHO, A. B. G.; ALVES, T. P. A SÉRIE BLACK MIRROR E OS ELEMENTOS DA NARRATIVA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CONTEXTO DA CULTURA DIGITAL. REVISTA COMMUNITAS, v. 4, n. 7, p. 182-197, 29 maio 2020.

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