Quem diria que a realidade ficaria muito mais estranha e assustadora do que os episódios de Black Mirror? Nós intuíamos que o futuro seria sombrio e que a apropriação equivocada das tecnologias digitais poderia nos confrontar com dilemas éticos, morais, filosóficos e até mesmo com a própria morte, mas nem de longe imaginávamos que a ameaça de um futuro distópico pudesse estar tão próxima de nós. Não tivemos que esperar muito para viver uma situação que serviria perfeitamente para qualquer episódio de Black Mirror. Eu diria até que seríamos capazes de murmurar um "que exagero dos roteiristas" depois de assistir um episódio que retratasse a realidade em que vivemos hoje...
Bom, muito antes de existir qualquer suspeita de uma pandemia no horizonte, quando ainda vivíamos a liberdade de não ter medo de morrer contaminados por um vírus, a Revista Communitas elaborou um dossiê temático chamado Black Mirror e Educação, publicado no final do primeiro semestre de 2020. Os organizadores, Felipe da Silva Ponte de Carvalho, Edméa Santos e Tania Lucía Maddalena, reuniram uma coletânea de textos muito interessante que estabelece pontes entre os diferentes contextos do uso das tecnologias digitais na série com os paralelos e potencialidade da Educação. Foram construídas pontes maravilhosas entre questões éticas, pedagógicas, estruturais e emocionais que permeiam o uso das tecnologias digitais no contexto da sala de aula. Muitas coisas discutidas nos textos estão vindo à tona e se materializando nos obstáculos das aulas remotas adotadas em várias redes e níveis de ensino.
Eu e Thelma Panerai contribuímos com o artigo “A SÉRIE BLACK MIRROR E OS ELEMENTOS DA NARRATIVA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CONTEXTO DA CULTURA DIGITAL”. Vou transcrever o trecho da apresentação redigido por Rafael Marques Gonçalves sobre o nosso artigo: "Thelma Panerai Alves e Ana Beatriz Gomes Carvalho mostram que a apropriação social das tecnologias, por parte dos professores, e a ampliação da cultura digital operam no sentido de empoderá-los para o compromisso político e cidadão, individual e coletivo, de lutar por questões fundamentais da sociedade. Neste viés, as narrativas da série Black Mirror favorecem inúmeras reflexões sobre o uso das tecnologias digitais, que reconfiguram as relações das pessoas com as coisas, com os processos e com as demais pessoas. Esses elementos da série podem contribuir para a construção das narrativas digitais dos professores e seu processo de consolidação da cultura digital". O editorial de Rafael Gonçalves foi escrito já no contexto da pandemia e logo no início já encontramos a hashtag #ficaemcasa, reproduzindo na introdução e na conclusão do texto, a angústia de todos diante das incertezas cotidianas da atualidade. Sim, a realidade é muito Black Mirror e não tem nada de positivo nisso!
Referência do artigo: CARVALHO, A. B. G.; ALVES, T. P. A SÉRIE BLACK MIRROR E OS ELEMENTOS DA NARRATIVA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CONTEXTO DA CULTURA DIGITAL. REVISTA COMMUNITAS, v. 4, n. 7, p. 182-197, 29 maio 2020.
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