Hoje completei 90 dias de isolamento social, com uma realidade muito pior do que qualquer coisa que poderíamos ter imaginado. No momento em que escrevo esse texto, já temos mais de 45 mil mortos, sem considerar as subnotificações. Na minha cidade foi necessário aplicar a restrição de circulação de pessoas durante 15 dias. As escolas já haviam retomado as aulas remotamente e as universidades começaram a se organizar para implementar as aulas remotas com criação de semestre suplementar, curso de verão, disciplinas modulares etc. As discussões envolvem não apenas o cenário atual, mas também um planejamento para o futuro pós-pandemia. Na UFPE, as aulas da pós-graduação retornaram na primeira semana de junho e todos se surpreenderam com a disposição dos alunos em retomar as atividades com aulas remotas. Fizemos uma reunião burocrática de abertura do semestre, apenas com informes operacionais e a presença dos alunos foi massiva. Ao final de quase duas horas de reunião, nós queríamos encerrar a atividade enquanto os alunos pediam para continuarmos "porque estava sendo muito bom ver as pessoas novamente". Não somos mesmo preparados para a solidão e o desamparo... Paradoxalmente ao isolamento social, acho que nunca conheci tanta gente como agora em um período tão curto de tempo: professores, coordenadores, pesquisadores, alunos, colegas de infância que se reencontraram nas redes sociais, novos colegas de Yoga... Existe um movimento de aproximação e apoio entre a maioria das pessoas, embora sempre apareçam no caminho os egocêntricos, negacionistas, fanáticos e ignorantes que são um perigo real para a sociedade. O que ficou mais evidente nesse momento é a falta de um pensamento coletivo, o bem-estar da coletividade é responsabilidade de todos, mas isso não parece estar claro para muitas pessoas. Quase como uma ação de escapismo, voltei a ler ficção científica, um gênero que eu sempre gostei, mas que fazia tempo que eu não encontrava tempo ou ânimo para ler. Vou até fazer uma postagem sobre essas leituras porque preciso refletir e contar como elas me apavoraram no lugar de me distrair. A perspectiva de que vamos demorar anos e não meses para chegarmos perto da normalidade do passado tem provocado reações diferentes nas pessoas, mas já vejo um movimento no sentido de repensar muitas coisas na nossa sociedade. Não, não estou animada, tampouco esperançosa. Não acredito em mudanças radicais, as pessoas se apegam a rotina não porque ela é confortável, mas porque acham que a única coisa que elas tem e que conhecem bem. Penso como Arthur Clarke, no final do livro "Sobre o Tempo e as Estrelas":
"- Só nos resta esperar. Não creio que tenhamos que esperar por muito tempo"...
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