Tenho observado muitas discussões na rede sobre o uso das tecnologias digitais como um paliativo para resolver os problemas da suspensão das aulas presenciais devido ao contexto da pandemia e, ao contrário de muitos colegas, escolhi não publicar a minha opinião. A minha decisão tem dois motivos e vou explicar os dois: o primeiro diz respeito ao fato de não ter nenhum dado para emitir qualquer opinião, favorável ou desfavorável. Penso que seria muito apressado fazer afirmações sobre uma realidade que nunca experimentamos ou pesquisamos. Não importa quantos anos de pesquisa sobre a cultura digital ou tecnologias na educação eu tenha, o que está acontecendo agora não tem nenhum precedente na pesquisa acadêmica contemporânea. Qualquer coisa que eu dissesse seria apenas um palpite e as redes sociais já tem um número expressivo de palpiteiros. Decidi observar, coletar dados e contribuir como eu pudesse com a construção de cenários possíveis para a nossa duríssima realidade e isso nos leva ao segundo motivo: tenho uma carga de trabalho enorme atualmente e mal tenho tempo para atender todas as demandas que chegam o tempo todo. Vou contar um pouco sobre elas e como estou contribuindo para o enfrentamento da pandemia no contexto da Educação.
O primeiro desafio que surgiu foi pensar em soluções para resolver a retomada das aulas na nossa universidade. Enquanto as instituições particulares, tanto do ensino superior quanto na Educação Básica, rapidamente migraram para suas aulas online através de plataformas de videoconferências, as instituições públicas tem o enorme desafio de lidar com uma significativa parcela dos discentes que não possuem acesso aos equipamentos e conexão necessários. Assim, a discussão foi mais demorada e a primeira experiência na UFPE será com a retomada das atividades da pós-graduação com aulas remotas. Não vou nem comentar aqui a quantidade de reuniões necessária para chegarmos a algum lugar (que acabou sendo cada programa decide se quer aderir ou não, mas quem quer ficar para trás diante de um cenário de incertezas?). Os alunos de pós-graduação tem prazos muito inflexíveis para concluir, muitos são bolsistas ou estão afastados do trabalho. Suspender as atividades curriculares por muito tempo poderia trazer prejuízos difíceis de prever. Penso que inicialmente os colegas acreditaram que ficaríamos alguns meses sem aulas e que a vida voltaria ao normal dentro de, no máximo, seis meses. Os fatos esmagaram qualquer previsão de retorno e as universidades de outros países anunciaram a suspensão das aulas presenciais em 2020, com previsão de retorno muito incerto em 2021. Agora, no final do mês de maio, algumas universidades já afirmam que só retornarão com a descoberta de uma vacina. Diante desse quadro, o que fazer com os alunos? Ficaremos sem aulas durante um ano, dois anos, indefinidamente? Como formar os professores para realizar o processo de aprendizagem mediado por tecnologias digitais? Como garantir o acesso aos alunos mais vulneráveis economicamente?
Ainda estamos longe de ter respostas para todas essas perguntas, mas já demos o primeiro passo com a decisão de retomar as aulas da pós-graduação. Para preparar a UFPE no enfrentamento de vários cenários possíveis, a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas e Qualidade de Vida (Progepe) e a Secretaria de Programas em Educação Aberta e a Distância (Spread), abriram inscrições para o curso de formação para professores na plataforma GSuit, da Google. Quase mil professores se inscreveram na primeira semana para a trilha básica e a experiência como formadora tem sido bastante interessante. Todos os professores que se inscreveram no curso estão empenhados em descobrir soluções, propor alternativas, apontar as fragilidades da universidade, pensando em construirmos juntos uma alternativa possível para o cenário no contexto da pandemia e até mesmo na pós-pandemia. Está muito claro para todos que não será possível voltar ao modelo que tínhamos antes e precisamos nos antecipar na busca de soluções. Estamos pensando juntos nas possibilidades de uma aprendizagem flexível e realmente inovadora. O preconceito em relação à EAD, a resistência ao uso das tecnologias, as dúvidas em relação ao ensino presencial e suas possíveis adequações com aulas remotas, foram transformados em interesse, reflexão, autocrítica e, sobretudo, disponibilidade para fazer mais e melhor. Como disse uma professora no nosso último encontro, nós apresentamos as possibilidades infinitas de uso das tecnologias digitais no ensino e na aprendizagem, os professores (e provavelmente os alunos) não vão querer mais voltar ao modelo presencial anterior, eu certamente não vou querer. Para alguns pode soar assustador, mas para os meus ouvidos, a fala da professora é musica da melhor qualidade!
Nenhum comentário:
Postar um comentário