Antes da pandemia, a última viagem que eu fiz aconteceu 15 dias antes dos decretos de isolamento social no país. Fomos comemorar o meu aniversário no Lajedo de Pai Mateus, no Cariri paraibano. Isso foi em fevereiro de 2020 e passamos os últimos dois anos recolhidos dentro de casa, apavorados antes da vacinação completa de toda a família. Infelizmente o cenário não mudou, mesmo com a vacina salvando vidas, o número de contaminados por Covid ou por gripe (ou os dois) aumentou absurdamente nas últimas semanas.
Por causa das demandas de um cargo de gestão na universidade, passei dois anos efetivamente sem férias. No começo de janeiro pensei em fazer uma pequena viagem de carro nos arredores porque ainda não tenho coragem para encarar uma viagem de carro ou de avião. Além do meio de transporte, foi necessário encontrar uma acomodação que fosse ampla, sem lugares fechados ou com aglomeração. Por coincidência (ou não) voltamos ao Lajedo, mas dessa vez na Pousada Matuto Sonhador, um lugar maravilhoso, com quartos isolados, muita ventilação e espaços abertos.
O Lajedo, diferente das outras vezes, estava vazio. Consegui descansar por três dias que pareceram três semanas. Sair de casa, pegar a estrada, contemplar outras paisagens, sentir outros cheiros e falar com outras pessoas são coisas simples, mas que no atual contexto se tornaram conquistas preciosas para quem gosta de ver o mundo... Nada pode ser mais importante do que conseguir paz por alguns dias, mesmo sabendo que o mundo continua com as suas mazelas e que só podemos ter esperança em dias melhores.
A região é conhecida por seus geossítios impressionantes com formações que existem em poucos lugares do mundo. A combinação dos tipos de rocha, pouca precipitação e movimentos tectônicos muito loucos configurou uma paisagem belíssima que ganha cores ainda mais impressionantes quando o sol se põe. Mesmo breve, essa pausa foi um alento para amenizar o cansaço que parecia não acabar nunca e renovar as energias para enfrentar mais um ano difícil e cheio de incertezas. O único problema que enfrentamos nesses três dias foi a dúvida se teríamos fôlego suficiente para subir até o topo do Lajedo ou se o almoço seria carne de sol na nata ou com queijo coalho. O resto foi só contemplação...