Semana passada participei do concurso público para professor adjunto da Universidade Federal de Pernambuco (área Educação a distância: fundamentos e metodologia da EAD). Sem querer radicalizar, se Socrátes, Homero e todos os autores dos clássicos vivessem nesta época, sem dúvida escreveriam sobre um concurso público para professor. São várias pequenas torturas, que vão se avolumando ao longo do processo e, caso o cidadão sobreviva até o final em pleno uso de suas faculdades mentais, terá uma chance de ser incluído no seleto grupo de professores doutores de uma IFES qualquer. Primeiro é a inscrição, é preciso procurar os documentos, atualizar o maldito currículo lattes (que já não sei bem se é uma homenagem ou uma vingança de algum desafeto acadêmico), pagar a taxa no Banco do Brasil (que dispensa comentários) e enviar por Sedex. Depois disso tudo, começa a tarefa detetivesca para descobrir se sua inscrição foi homologada ou não, a experiência (=UFPB) já me mostrou que se não tiver nenhuma teoria da conspiração em jogo, tudo pode dar certo, caso contrário... Neste caso específico, a ansiedade foi grande porque além de estar escaldada eu estava concorrendo como doutoranda, sem ter certeza absoluta de que os documentos estavam corretos. Depois é fácil, basta escrever um artigo de dez a quinze páginas para cada ponto, elaborar esquemas, desenhos ou qualquer outro artifício que faça o cristão memorizar todos eles, ter um cuidado enorme com as referências, escrever de forma impecável, sem borrões ou riscados e pronto! Está automaticamente habilitado para a prova didática que acontecerá 24 horas Jack Bauer depois de sorteado o ponto. Ah, sim, esqueci do ponto alto, na UFPE é realizada uma leitura pública da prova escrita! Como? Sim, querido leitor, se você não domina o conteúdo, não apareça lá, porque depois de escrever até a munheca cair e os olhos saltarem, temos que ler a nossa produção. Confesso que só continuei no processo porque realmente eu dominava todos os pontos em nível de não dar um vexame completo, mas conheço muita gente que faz concurso (e passa!) porque conta com a possibilidade de sorteio de determinados pontos, enquanto não saca nada dos outros. Bom, parece que 24 horas é mais do que o suficiente para montar uma plano de aula com seus respectivos slides, certo? Errado, o cansaço, o sistema nervoso e as noites mal dormidas começam a cobrar o seu preço exatamente nesta etapa final, e o risco aqui é grande. Eu já sabia que existe alguma coisa mágica com o tempo de aula em concursos, aquela aula maravilhosa que você treina em casa com duração de 60 minutos é misteriosamente encolhida na hora H, e você se vê em desespero completo para esticar os minutos que faltam e não ser reprovado. Sabendo disso, eu preparei um plano B com slides e esquemas que poderiam ser acelerados caso fosse necessário ou apresentados beeeeeemmm devagar no final da nossa Ilíada de Homero. Ao final de tudo, eu que já nem conseguia falar direito, perguntei quando saía o resultado. - Amanhã, às dez horas, respondeu a banca. -Ahhh... Vai estar fixado aqui na sala ou no departamento? perguntei. A banca me olhou como se eu fosse uma alienígena demente (juro que corri um sério risco de ser reprovada nessa hora):- Você não entendeu. O resultado é divulgado a partir das dez horas porque os envelopes são abertos na hora e a contagem dos pontos é pública! Mas que raios, tudo é público neste concurso? Ou seja, se você não deu vexame na leitura da prova, não pagou mico na hora da aula, ainda corre um sério risco de ser exposto ao ridículo na hora do resultado. Como mulher de fibra que sou, fui até lá com a cara e a coragem e, embora eu soubesse que tinha ido bem na prova escrita, sabia que todos poderiam ser reprovados. Entrei na sala, vi os resultados no quadro, mas só compreendi quando o professor Luiz Mercado me deu os parabéns. Saí de lá atônita, com o coração inflado de tantos abraços de boas vindas, e com uma sensação incrível de ter conseguido algo que consumiu meus três últimos anos de trabalho árduo e dedicação total. Toda a minha resignação diante dos contratempos da vida (e a decisão inabalável de não ir para o lado negro da força) teve a sua recompensa materializada naquele momento único. Só pude pensar em uma coisa: os anjos agiram por mim!
terça-feira, 16 de junho de 2009
sábado, 13 de junho de 2009
Redes Sociais na Internet
Já está na rede para download o novo livro da Raquel Recuero, Redes Sociais na Internet, que aborda a construção e a dinâmica das redes sociais. Em entrevista para o blog Monitorando, a autora afirma que "os espaços sociais que temos na rede auxiliam em um processo de comunicação mais amplo, tanto nos aspectos informativos (acesso à notícias, informações, serviços e etc.) quanto naqueles conversacionais (debates, discussões, etc.). Assim, também são espaço potenciais para a educação e o espírito crítico. Do meu ponto de vista, ainda fazemos um uso muito modesto das tecnologias na educação". Eu não me interesso particularmente em pesquisar as redes sociais, mas a sua fundamentação é essencial para o desenvolvimento de qualquer pesquisa sobre a apropriação e o uso da Internet. Eu fiquei sabendo do lançamento do livro pelo Twitter (esta ferramenta ainda vai servir para alguma coisa...). Não é fantástico quando o conhecimento está compartilhado, ao alcance de um clique?
Astronomia a Distância no Observatório Nacional
Mais uma iniciativa interessante para a oferta de cursos a distância: o Observatório Nacional está com inscrições abertas para o curso Astrofísica do Sistema Solar, estruturado em módulos e totalmente a distância. Segundo as informações do site, "não é necessário qualquer conhecimento prévio de astronomia para acompanhar o nosso curso a distância uma vez que ele está voltado para um público não especializado em ciências exatas. Nosso objetivo é difundir e atualizar o conhecimento científico de todas as pessoas interessadas em astronomia". O curso tem duração de um ano e quem quiser o certificado do curso deverá realizar as avaliações para obtê-lo. Totalmente gratuito e organizado em um formato livre que permite o acesso de qualquer pessoa, inclusive os que não estão inscritos, a proposta é uma iniciativa interessante para a divulgação da ciência no país e um indicativo de que a educação a distância está sendo apropriada até mesmo pelos setores mais resistentes da academia.
sábado, 6 de junho de 2009
Nuvem de Tags
Depois de levar uma surra pesquisando na rede, consegui fazer uma nuvem com as tags do meu blog no Wordle Create. A idéia inicial era apenas visualizar as tags em um formato diferente, mas ao ver o resultado fiquei pensando em utilizar a mesma ferramenta para fazer uma representação com as palavras que mais aparecem nos meus trabalhos. O resultado final ficou bem interessante, poderia ser uma nova forma para substituir os resumos caretas dos trabalhos acadêmicos. Aliás, fico pensando em como o pessoal que determina as normas da ABNT vai se adequar aos novos percursos e possibilidades que a tecnologia oferece. Como diz o slogan de responsabilidade social da Natura, é crer para ver!
Tópicos em Cidadania e Direitos Humanos
Na dureza que é a vida de doutoranda, estou fazendo algumas disciplinas apenas para contabilizar os créditos e alcançar a incrível marca de 37 créditos exigidos. Quando eu fiz o mestrado no IPPUR/UFRJ, todo mundo comentava que era um dos cursos que exigia um número de créditos absurdo (36 no total), enquanto outros mestrados exigiam 12 créditos para o sujeito concluir. Uma das disciplinas que estou cursando para cumprir a exigência de carga horária é Cidadania e proteção internacional dos direitos humanos, com o professor Fredys Sarto. Para o meu trabalho não acrescenta quase nada, mas para a vida é imprescindível. Começamos com Kant, passamos por Arendt, lemos Marshall e chegaremos em José Murilo de Carvalho e Alaez Corral nas próximas semanas. A turma é bem pequena (exigência do professor), mas o tema é um verdadeiro desafio. Pensar em questões como a origem da nossa cidadania no modelo romano, o direito natural, a inexistência de fronteiras na cidadania e o papel essencial da educação neste processo, tem sido muito enriquecedor. Vou desenvolver meu artigo relacionando a questão do acesso tecnológico na sociedade de informação e a formação da identidade e cidadania. Neste momento, corro um sério risco de acreditar que esta foi a melhor disciplina do curso e a única que não contribuirá em nem uma linha sequer com a minha tese. Vai entender...