segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Tempo de agradecer


O fim do ano chegou e tenho aproveitado o período de recesso para agradecer. Não me entendam mal, não concordo com as pessoas que dizem que temos que agradecer por tudo que passamos porque ficamos mais fortes ou porque nos tornarmos mais solidários e compreendemos o sentido da vida. Não acredito que nenhum sofrimento possa ter algo de positivo. Não existe nada de positivo em quase 200 mil mortes no Brasil e milhares no mundo. Não vejo nenhuma evolução individual ou coletiva, a pandemia revelou o melhor e o pior das pessoas e, infelizmente, o pior tem surgido em um número muito maior... Não quero justificar ou entender o comportamento de ninguém, não vou desperdiçar o meu tempo e a minha energia com isso. Acredito que muitas pessoas estão agindo de forma pouco razoável por diversos fatores e posso supor alguns: medo, dificuldade de adaptação, ansiedade com o desconhecido, raiva, revolta, não aceitação da realidade etc. Obviamente que nada disso justifica a agressividade, negação ou a ausência de preocupação com o coletivo, nada me convencerá que esses comportamentos poderiam ser aceitáveis. Diante do caos, o que posso fazer é manter o foco das minhas ações no que é correto para todos e não apenas para mim. Claro que isso é muito pouco, mas a sensação de impotência diante do cenário que se apresenta hoje não é exclusividade de ninguém, estamos perplexos com o que observamos a cada dia e clamamos incessantemente por empatia, racionalidade, respeito e cuidado. O contexto da pandemia já seria estressante por causa da doença, mas lidar com o comportamento absurdo das pessoas tornou tudo ainda pior. Por isso, agradeci aos que tornaram um ano tão difícil um pouco mais leve, assim como recebi agradecimentos daqueles que se sentiram tocados de alguma forma por minhas ações. Tive muita sorte em ter pessoas que me ajudaram, pavimentando novos caminhos e construindo novas formas de viver. Os pequenos gestos importam: uma solução, um pedido de ajuda, uma aula de Yoga, um elogio, uma oferta para terminar um trabalho exaustivo... Ninguém se adapta sem apoio, sem incentivo e sem o outro, somos uma espécie gregária e ficou muito evidente que o que afeta um, afeta todos. Quando tudo isso passar e for necessário avaliar o que fizemos durante a pandemia, eu terei a tranquilidade de dizer que pensei no coletivo, acreditei na ciência e segui todas as recomendações das organizações de saúde. Vou lembrar também que apoiei os meus alunos, que me preocupei com as pessoas e defendi o meu trabalho como servidora pública. Como pesquisadora, publiquei artigos com resultados de pesquisas e reflexões sobre a educação em tempos de pandemia. Atuei na formação de professores para a realização das aulas remotas. Trabalhei mais de 12 horas por dia, não parei sequer nos feriados ou no meu período de férias. Fiz tudo o que foi possível para atuar de uma forma condizente com o desafio que nos foi imposto. Ao final de tudo, é isso o que importa: o que você fez para resistir e apoiar os outros quando o mundo  desmontava diante dos nossos olhos? Cada um terá a sua justificativa e eu, embora tenha a certeza de que fiz tudo o que podia, sempre lamentarei por não ter feito mais!
Crédito da imagem: https://images.app.goo.gl/DdeNKqBPGoYTWw718

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