domingo, 31 de maio de 2020

Spread UFPE

Tenho observado muitas discussões na rede sobre o uso das tecnologias digitais como um paliativo para resolver os problemas da suspensão das aulas presenciais devido ao contexto da pandemia e, ao contrário de muitos colegas, escolhi não publicar a minha opinião. A minha decisão tem dois motivos e vou explicar os dois: o primeiro diz respeito ao fato de não ter nenhum dado para emitir qualquer opinião, favorável ou desfavorável. Penso que seria muito apressado fazer afirmações sobre uma realidade que nunca experimentamos ou pesquisamos. Não importa quantos anos de pesquisa sobre a cultura digital ou tecnologias na educação eu tenha, o que está acontecendo agora não tem nenhum precedente na pesquisa acadêmica contemporânea. Qualquer coisa que eu dissesse seria apenas um palpite e as redes sociais já tem um número expressivo de palpiteiros. Decidi observar, coletar dados e contribuir como eu pudesse com a construção de cenários possíveis para a nossa duríssima realidade e isso nos leva ao segundo motivo: tenho uma carga de trabalho enorme atualmente e mal tenho tempo para atender todas as demandas que chegam o tempo todo. Vou contar um pouco sobre elas e como estou contribuindo para o enfrentamento da pandemia no contexto da Educação.

O primeiro desafio que surgiu foi pensar em soluções para resolver a retomada das aulas na nossa universidade. Enquanto as instituições particulares, tanto do ensino superior quanto na Educação Básica, rapidamente migraram para suas aulas online através de plataformas de videoconferências, as instituições públicas tem o enorme desafio de lidar com uma significativa parcela dos discentes que não possuem acesso aos equipamentos e conexão necessários. Assim, a discussão foi mais demorada e a primeira experiência na UFPE será com a retomada das atividades da pós-graduação com aulas remotas. Não vou nem comentar aqui a quantidade de reuniões necessária para chegarmos a algum lugar (que acabou sendo cada programa decide se quer aderir ou não, mas quem quer ficar para trás diante de um cenário de incertezas?). Os alunos de pós-graduação tem prazos muito inflexíveis para concluir, muitos são bolsistas ou estão afastados do trabalho. Suspender as atividades curriculares por muito tempo poderia trazer prejuízos difíceis de prever. Penso que inicialmente os colegas acreditaram que ficaríamos alguns meses sem aulas e que a vida voltaria ao normal dentro de, no máximo, seis meses. Os fatos esmagaram qualquer previsão de retorno e as universidades de outros países anunciaram a suspensão das aulas presenciais em 2020, com previsão de retorno muito incerto em 2021. Agora, no final do mês de maio, algumas universidades já afirmam que só retornarão com a descoberta de uma vacina. Diante desse quadro, o que fazer com os alunos? Ficaremos sem aulas durante um ano, dois anos, indefinidamente? Como formar os professores para realizar o processo de aprendizagem mediado por tecnologias digitais? Como garantir o acesso aos alunos mais vulneráveis economicamente?

Ainda estamos longe de ter respostas para todas essas perguntas, mas já demos o primeiro passo com a decisão de retomar as aulas da pós-graduação. Para preparar a UFPE no enfrentamento de vários cenários possíveis, a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas e Qualidade de Vida (Progepe) e a Secretaria de Programas em Educação Aberta e a Distância (Spread), abriram inscrições para o curso de formação para professores na plataforma GSuit, da Google. Quase mil professores se inscreveram na primeira semana para a trilha básica e a experiência como formadora tem sido bastante interessante. Todos os professores que se inscreveram no curso estão empenhados em descobrir soluções, propor alternativas, apontar as fragilidades da universidade, pensando em construirmos juntos uma alternativa possível para o cenário no contexto da pandemia e até mesmo na pós-pandemia. Está muito claro para todos que não será possível voltar ao modelo que tínhamos antes e precisamos nos antecipar na busca de soluções. Estamos pensando juntos nas possibilidades de uma aprendizagem flexível e realmente inovadora. O preconceito em relação à EAD, a resistência ao uso das tecnologias, as dúvidas em relação ao ensino presencial e suas possíveis adequações com aulas remotas, foram transformados em interesse, reflexão, autocrítica e, sobretudo, disponibilidade para fazer mais e melhor. Como disse uma professora no nosso último encontro, nós apresentamos as possibilidades infinitas de uso das tecnologias digitais no ensino e na aprendizagem, os professores (e provavelmente os alunos) não vão querer mais voltar ao modelo presencial anterior, eu certamente não vou querer. Para alguns pode soar assustador, mas para os meus ouvidos, a fala da professora é musica da melhor qualidade!

domingo, 17 de maio de 2020

Dois meses em isolamento social

Dois meses de isolamento social, dois meses enfrentando uma realidade que nunca imaginei que pudesse acontecer. A curva de novos casos e mortes não para de crescer e é frustrante cumprir as orientações de médicos e cientistas enquanto as pessoas continuam brincando com a roleta da morte porque "não conseguem ficar presas em casa". Na minha cidade praticamente tudo está fechado, lojas, cinemas, bares, restaurantes, praias e parques. Mesmo assim, a prefeitura tem feito ações de fiscalização e fechado lojas que comerciantes teimosos insistem em manter abertas. Padarias, supermercados, farmácias e postos de gasolina continuam funcionando e parece que viraram locais de encontro da população, estão sempre lotados. Sair apenas para o que é necessário não seria tão arriscado se todos usassem o mesmo princípio. Como não é possível confiar no bom senso das pessoas, cada ser humano na rua é um potencial risco de contaminação e mesmo mantendo a distância mínima recomendada, volto para casa com os nervos em pandarecos... O vizinho da minha mãe continuou passeando, bebendo cerveja com os amigos e ignorando qualquer sugestão de isolamento social. Foi contaminado e passou uma semana no hospital lutando para respirar. Teve sorte e voltou para casa, espero que recupere a saúde e a responsabilidade. A primeira pode ser tratada, a segunda não. Minha filha voltou ao trabalho com redução de carga horária e vários procedimentos de segurança, quando ela chega em casa é uma operação de guerra: roupa direto para a máquina (já tira a roupa na entrada), álcool nas maçanetas e no chão, banho imediato. Quando preciso ir ao mercado, a mesma coisa: desinfetamos as roupas, a pessoa e as compras.

Enquanto o mundo luta para salvar a sua população e a economia, vivemos uma situação no país que oscila entre o patético e o assustador. Estou cansada de assistir esse espetáculo mambembe de quinta categoria que nos arrasta para um buraco sem fim. A pandemia já nos exaure mentalmente, ter que conciliar o medo pela sobrevivência com o medo das ações de um genocida ignorante, é demais para mim!

O trabalho continua dobrado, iniciamos o processo de formação dos professores no Google Classroom e já temos mil professores inscritos para dar conta (vou publicar uma postagem só sobre o curso). Não é uma formação fácil, as pessoas estão com medo da realidade que enfrentamos, estão confusas, ansiosas e sem a menor ideia do que fazer... Não basta apenas ensinar como usar as ferramentas, é preciso ter paciência, compreensão e, sobretudo, empatia. Felizmente, isso não tem me faltado durante esse período difícil de quarentena.

sábado, 9 de maio de 2020

Fim da sétima semana de isolamento

Terminamos a sétima semana de isolamento com o pior cenário da pandemia se confirmando no país. Algumas cidades anunciam a necessidade de lockdown enquanto o homem desprezível que está sentado na cadeira presidencial anuncia a realização de um churrasco para mil pessoas. Como diz a atualização do ditado, de onde menos se espera, é de onde não vem nada mesmo. Só podemos contar com as políticas de contenção dos governadores e com o bom senso da população que começaram a ver conhecidos e familiares perecendo com a doença e, infelizmente, só assim perceberam a gravidade da pandemia. Semana passada, com o feriado de primeiro de maio, muitas pessoas pensaram que seria uma boa ideia viajar para as cidades praianas. Os prefeitos precisaram fechar as praias para conter o volume de pessoas que circulavam na cidade, mas mesmo assim, as pessoas lotaram os supermercados, mercearias, farmácias e açougues. Calculem a explosão no número de casos quando essas pessoas retornarem para as suas cidades no interior, muitas delas sem um único leito de UTI. Nós saímos muito pouco de casa e quando precisamos ir ao banco ou ao supermercado, usamos máscaras e nos besuntamos de álcool, evitando tocar em qualquer superfície e mantendo distância de qualquer ser humano. Mesmo com esses cuidados, sempre fico sobressaltada, com taquicardia e sintomas de ansiedade. Volto para casa exausta e passo o dia tentando controlar o meu medo de ter sido contaminada...

A constatação de que não voltaremos tão cedo para qualquer situação próxima da normalidade, começou a servir como motor para a universidade pensar em caminhos para retomar as atividades de aula remotamente. Vamos avançando devagar, mas sólidos porque será inevitável pensar em novas formas de aprendizagem durante a pandemia e depois dela. Especialistas já falam em dois anos de movimento alternado entre isolamento social e retorno parcial das atividades. Enquanto não houver uma vacina para imunizar a população, teremos que conviver com o vírus e reinventar a forma como trabalhamos, consumimos e nos relacionamos com as pessoas. Semana que vem começaremos os cursos de formação dos professores da própria universidade e ainda veremos muitas inadequações no uso das tecnologias na Educação tanto nas escolas da Educação Básica quanto no Ensino Superior. Lamentavelmente, as possibilidades do uso das tecnologias digitais na mediação pedagógica não foram consideradas nos tempo de normalidade e, atualmente, poucos professores e gestores possuem a apropriação necessária para implementar novas estratégias. Terão que aprender fazendo e, embora seja desgastante e extremamente penoso, é um movimento inevitável. Felizmente, ainda podemos caminhar juntos e os professores especialistas no tema estão trabalhando muito para encontrar caminhos que ajudem a todos neste momento.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Marcha Virtual pela Ciência no Brasil

Amanhã é dia da Marcha Virtual pela Ciência no Brasil. "A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) convida todas as entidades, instituições e associações científicas e acadêmicas de todo o País, todas as entidades civis, professores, pesquisadores, estudantes e todos os amigos da ciência para participar ativamente da Marcha Virtual pela Ciência no Brasil no dia 07 de maio. Com atividades transmitidas pelas redes sociais ao longo do dia, o objetivo da manifestação é chamar a atenção para a importância da ciência no enfrentamento da pandemia de covid-19 e de suas implicações sociais, econômicas e para a saúde das pessoas. Veja como você pode participar da Marcha Virtual pela Ciência no Brasil: enviar depoimentos em vídeo ou texto, fortalecer os dois tuitaços que serão realizados no dia, participar dos painéis online, incentivar sua instituição a criar um evento digital, compartilhar em suas redes sociais: o importante é que todos façam parte desse Pacto pela Vida que será realizado no dia 7 de maio!" A UFPE também participará da marcha e para ver a programação é só clicar aqui. Participe!

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