
segunda-feira, 18 de janeiro de 2021
Férias!

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020
segunda-feira, 28 de dezembro de 2020
Tempo de agradecer
O fim do ano chegou e tenho aproveitado o período de recesso para agradecer. Não me entendam mal, não concordo com as pessoas que dizem que temos que agradecer por tudo que passamos porque ficamos mais fortes ou porque nos tornarmos mais solidários e compreendemos o sentido da vida. Não acredito que nenhum sofrimento possa ter algo de positivo. Não existe nada de positivo em quase 200 mil mortes no Brasil e milhares no mundo. Não vejo nenhuma evolução individual ou coletiva, a pandemia revelou o melhor e o pior das pessoas e, infelizmente, o pior tem surgido em um número muito maior... Não quero justificar ou entender o comportamento de ninguém, não vou desperdiçar o meu tempo e a minha energia com isso. Acredito que muitas pessoas estão agindo de forma pouco razoável por diversos fatores e posso supor alguns: medo, dificuldade de adaptação, ansiedade com o desconhecido, raiva, revolta, não aceitação da realidade etc. Obviamente que nada disso justifica a agressividade, negação ou a ausência de preocupação com o coletivo, nada me convencerá que esses comportamentos poderiam ser aceitáveis. Diante do caos, o que posso fazer é manter o foco das minhas ações no que é correto para todos e não apenas para mim. Claro que isso é muito pouco, mas a sensação de impotência diante do cenário que se apresenta hoje não é exclusividade de ninguém, estamos perplexos com o que observamos a cada dia e clamamos incessantemente por empatia, racionalidade, respeito e cuidado. O contexto da pandemia já seria estressante por causa da doença, mas lidar com o comportamento absurdo das pessoas tornou tudo ainda pior. Por isso, agradeci aos que tornaram um ano tão difícil um pouco mais leve, assim como recebi agradecimentos daqueles que se sentiram tocados de alguma forma por minhas ações. Tive muita sorte em ter pessoas que me ajudaram, pavimentando novos caminhos e construindo novas formas de viver. Os pequenos gestos importam: uma solução, um pedido de ajuda, uma aula de Yoga, um elogio, uma oferta para terminar um trabalho exaustivo... Ninguém se adapta sem apoio, sem incentivo e sem o outro, somos uma espécie gregária e ficou muito evidente que o que afeta um, afeta todos. Quando tudo isso passar e for necessário avaliar o que fizemos durante a pandemia, eu terei a tranquilidade de dizer que pensei no coletivo, acreditei na ciência e segui todas as recomendações das organizações de saúde. Vou lembrar também que apoiei os meus alunos, que me preocupei com as pessoas e defendi o meu trabalho como servidora pública. Como pesquisadora, publiquei artigos com resultados de pesquisas e reflexões sobre a educação em tempos de pandemia. Atuei na formação de professores para a realização das aulas remotas. Trabalhei mais de 12 horas por dia, não parei sequer nos feriados ou no meu período de férias. Fiz tudo o que foi possível para atuar de uma forma condizente com o desafio que nos foi imposto. Ao final de tudo, é isso o que importa: o que você fez para resistir e apoiar os outros quando o mundo desmontava diante dos nossos olhos? Cada um terá a sua justificativa e eu, embora tenha a certeza de que fiz tudo o que podia, sempre lamentarei por não ter feito mais!
quarta-feira, 23 de dezembro de 2020
Artigo publicado na Educar em Revista
Publicamos o artigo "Narrativas dos professores nas redes: o percurso dos professores da Educação Básica" no dossiê temático Cultura Digital e Educação da Revista Educar em Revista, Qualis A1 na área de Ensino e Educação. O dossiê foi organizado pelas professores Glaúcia Brito e Maria Luisa Furlan. Só temos a agradecer pelo trabalho criterioso das professoras que resultou em artigos interessantes, com temáticas essenciais para refletirmos sobre o momento atual. O leitor encontrará análises sobre a educação híbrida no ensino superior, formação em tempos de Covid-19, Ciberfeminismo, Educação on-life, desafios da cultura digital, o uso do audiovisual na didática da História no ensino superior, gamificação no ensino superior, virtualização do ensino superior, entre outros temas abordados por professores brasileiros e estrangeiros. Os artigos estão disponíveis em português, inglês e espanhol. Boa leitura!
quarta-feira, 9 de dezembro de 2020
Livro Processos formativos, tecnologias imersivas e novos letramentos
segunda-feira, 30 de novembro de 2020
Resultado Edital Propesqi nº 10/2020
Resultado Edital Propesqi nº 10/2020, Edital Institucional de Apoio à Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais da UFPE: apesar de todas as ações contra, vai ter pesquisa em Ciências Humanas, SIM!
terça-feira, 10 de novembro de 2020
Número temático da Revista Em Teia
segunda-feira, 9 de novembro de 2020
Resultado final da seleção 2021 - PPGEdumatec
Publicamos na última sexta-feira o resultado final do processo seletivo do Programa de Pós-graduação em Educação Matemática e Tecnológica. Foram aprovados 21 candidatos para o mestrado e 18 candidatos para o doutorado. Por causa do contexto da pandemia, o processo seletivo foi totalmente diferente dos anos anteriores, envolvendo 12 professores para avaliar 435 candidatos inscritos. O volume de trabalho foi enorme, mas a equipe trabalhou unida e se empenhou muito em realizar as atividades com transparência e cuidado. Tivemos candidatos aprovados de vários estados, com muitos alunos do interior de Pernambuco, Alagoas e Paraíba. Esse resultado indica que as ações de interiorização do ensino superior estão tendo resultados muito positivos, proporcionando mais oportunidades para os alunos das cidades pequenas e médias. Para o próximo ano, vamos pensar em ações de orientação para todos que queiram se candidatar para o nosso processo seletivo e para outros programas também. Observamos durante a seleção que muitos alunos não conseguiram organizar a documentação necessária, seguir as orientações do edital, interpretar o sistema de avaliação do currículo e até mesmo digitalizar os documentos corretamente. Vamos tentar realizar algumas ações de orientação com palestras e oficinas abertas para todos com o objetivo de orientar melhor as pessoas que participam de processos seletivos para cursos de pós-graduação. Veremos se essas ações serão eficazes no próximo ano. Agradeço aos professores que se empenharam tanto no processo e parabéns aos aprovados!
quinta-feira, 29 de outubro de 2020
A experiência com a gravação de um podcast
A oportunidade de usar um recurso diferente para
compartilhar uma ideia, um trabalho ou mesmo apenas para conversar com colegas ou pessoas de outras áreas, é sempre estimulante. Quando
temos que nos adaptar e realizar o percurso de forma diferente, é mais
interessante ainda. Fui convidada por um ex-aluno muito querido do Edumatec para gravar um podcast sobre o uso das tecnologias nas aulas
remotas. Gravei o material em casa, com as orientações dele, sem ter a
menor ideia do resultado final. Minha opinião?
Adorei! Como essas criaturas juntaram os fios separados e fizeram um
lindo mosaico de falas e ideias articuladas? Parabéns aos envolvidos!
Agradeço ao Adson Alves e ao pessoal da 4parede pelo
convite e pela oportunidade de compartilhar algumas reflexões sobre
Educação e Tecnologia. Mais do que ficar impressionada com o produto final, o que valeu mesmo a pena foi o percurso que possibilitou o conhecimento de
outros caminhos possíveis para a colaboração e divulgação do trabalho
acadêmico. Quem quiser conhecer o trabalho, segue o texto de divulgação
e o link para acessar o podcast:
“A suspensão dos encontros presenciais fez com que os modos de trabalho e sustentabilidade de artistas e coletivos artísticos precisasse se refazer. Nesse quarto e último episódio do podcast Quarta Parede Especial, abordamos o tema Arte, Educação e Tecnologias – Diálogos Sobre Criação Artística, Formação e Mediação Cultural. Nesse programa, Adson Alves e João Guilherme conversam com as educadoras Ana Beatriz Carvalho e Jhanaína Gomes, de Pernambuco, e Wallace Cardia, do Rio de Janeiro. Eles falam sobre como os arte-educadores foram adaptando seus métodos de ensino para o uso de tecnologias digitais, como notebook, smartphones, tablets entre outros”.
quarta-feira, 30 de setembro de 2020
A formação do pesquisador em foco
quinta-feira, 24 de setembro de 2020
II Congresso Humanitas: as humanidades em tempos de pós-verdade
Seis meses de pandemia
terça-feira, 11 de agosto de 2020
Seleção Edumatec 2021
As inscrições para a seleção 2021 do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica Edumatec/UFPE estão abertas até o dia 30 de agosto. O edital está disponível no Boletim Oficial da UFPE e devido ao contexto da pandemia, o processo seletivo terá apenas duas etapas: avaliação do projeto e análise do currículo. Diferente dos anos anteriores, não teremos prova escrita de conteúdo, entrevista e prova de idioma. Serão ofertadas 20 vagas para o mestrado e 17 vagas para o doutorado, além de duas vagas adicionais destinadas a servidores da UFPE, sendo uma vaga para o mestrado e uma vaga para o doutorado. As vagas são para as linhas de pesquisa “Educação Tecnológica”, “Didática da Matemática” e “Processos de Ensino Aprendizagem em Educação Matemática”. O resultado final será divulgado no dia 29 de outubro e as aulas estão previstas para iniciar em março de 2021.
terça-feira, 28 de julho de 2020
Chamada para publicação da Revista Em Teia
sexta-feira, 17 de julho de 2020
Quatro meses de isolamento social
Ontem chegamos aos quatro meses de isolamento com mais de 76 mil mortos e mais de 2 milhões de pessoas contaminadas. Enquanto os casos no Brasil não param de crescer, várias cidades ensaiam a reabertura do comércio e anunciam a volta das aulas presenciais, contrariando todos os estudos científicos e as recomendações da OMS. Na minha cidade abriram os shoppings, mas caminhar na areia da praia continua proibido. A maior parte das pessoas que circula nas ruas usa máscara, mas é possível encontrar pessoas sem usá-las ou criando confusão porque são obrigadas a entrar nos estabelecimentos usando a máscara. O mais grave é que não podemos nos iludir, as pessoas que querem garantir o seu direito de não usar a máscara de proteção hoje e até entram na justiça para isso, certamente lutariam em um segundo momento para que as outras pessoas também não usassem, alegando segurança, desconforto ao ver alguém de máscara ou até mesmo porque as pessoas precisam perder o medo de um vírus que não existe. A ignorância das pessoas é ilimitada.
A irritante resignação ao "novo normal", como se fosse possível naturalizar as mortes, o desemprego e as limitações que a pandemia nos impõe, é deprimente. Por outro lado, também temos a resiliência e a tranquilidade das pessoas que buscam soluções e continuam firmes na luta por uma sociedade melhor. Retomaremos as aulas da graduação de forma remota na UFPE a partir do dia 17 de agosto e, enquanto colunistas escrevem textos agressivos nos jornais questionando a lentidão das decisões na universidade públicas, colegas que são contra as aulas remotas atacam sem o menor senso de civilidade os que acreditam que é necessário fazer alguma coisa, inúmeras consultas são realizadas com professores, técnicos e alunos e a falta de compreensão sobre a gravidade e duração da situação se assemelha aos grupos do WhatsApp que negam a pandemia ou que acreditam que o vírus é uma conspiração do governo chinês. As pessoas não mudam, elas apenas se revelam em tempos difíceis. Penso que tudo está sendo testado, a ética profissional, o compromisso social, as relações de trabalho, as relações familiares, as amizades... Algumas se consolidarão e até se transformarão em algo melhor, outras serão desintegradas. Eu compreendo os dois movimentos como resultado da natureza humana, as relações sólidas vão se adaptar e reorganizar, as relações frágeis ou mobilizadas por interesses, irão de esfacelar não por causa da pandemia, mas sim porque a crise trouxe à tona o que cada um tem a oferecer de verdade. Não há mais tempo para exibir apenas o verniz polido e a capa da boa educação, o medo da finitude revela o que temos na alma. Percebo essa desintegração das pessoas com tanta clareza como se fosse algo sólido e, embora não seja algo bonito de se ver, é necessário enfrentar todos os desdobramentos que a pandemia provocou na nossa tessitura social e nas nossas relações cotidianas. Como eu descobri há alguns anos, a vida é um fio, então viva o seu tempo da melhor forma possível.
segunda-feira, 6 de julho de 2020
Black Mirror e Educação
Quem diria que a realidade ficaria muito mais estranha e assustadora do que os episódios de Black Mirror? Nós intuíamos que o futuro seria sombrio e que a apropriação equivocada das tecnologias digitais poderia nos confrontar com dilemas éticos, morais, filosóficos e até mesmo com a própria morte, mas nem de longe imaginávamos que a ameaça de um futuro distópico pudesse estar tão próxima de nós. Não tivemos que esperar muito para viver uma situação que serviria perfeitamente para qualquer episódio de Black Mirror. Eu diria até que seríamos capazes de murmurar um "que exagero dos roteiristas" depois de assistir um episódio que retratasse a realidade em que vivemos hoje...
Bom, muito antes de existir qualquer suspeita de uma pandemia no horizonte, quando ainda vivíamos a liberdade de não ter medo de morrer contaminados por um vírus, a Revista Communitas elaborou um dossiê temático chamado Black Mirror e Educação, publicado no final do primeiro semestre de 2020. Os organizadores, Felipe da Silva Ponte de Carvalho, Edméa Santos e Tania Lucía Maddalena, reuniram uma coletânea de textos muito interessante que estabelece pontes entre os diferentes contextos do uso das tecnologias digitais na série com os paralelos e potencialidade da Educação. Foram construídas pontes maravilhosas entre questões éticas, pedagógicas, estruturais e emocionais que permeiam o uso das tecnologias digitais no contexto da sala de aula. Muitas coisas discutidas nos textos estão vindo à tona e se materializando nos obstáculos das aulas remotas adotadas em várias redes e níveis de ensino.
Eu e Thelma Panerai contribuímos com o artigo “A SÉRIE BLACK MIRROR E OS ELEMENTOS DA NARRATIVA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CONTEXTO DA CULTURA DIGITAL”. Vou transcrever o trecho da apresentação redigido por Rafael Marques Gonçalves sobre o nosso artigo: "Thelma Panerai Alves e Ana Beatriz Gomes Carvalho mostram que a apropriação social das tecnologias, por parte dos professores, e a ampliação da cultura digital operam no sentido de empoderá-los para o compromisso político e cidadão, individual e coletivo, de lutar por questões fundamentais da sociedade. Neste viés, as narrativas da série Black Mirror favorecem inúmeras reflexões sobre o uso das tecnologias digitais, que reconfiguram as relações das pessoas com as coisas, com os processos e com as demais pessoas. Esses elementos da série podem contribuir para a construção das narrativas digitais dos professores e seu processo de consolidação da cultura digital". O editorial de Rafael Gonçalves foi escrito já no contexto da pandemia e logo no início já encontramos a hashtag #ficaemcasa, reproduzindo na introdução e na conclusão do texto, a angústia de todos diante das incertezas cotidianas da atualidade. Sim, a realidade é muito Black Mirror e não tem nada de positivo nisso!
Referência do artigo: CARVALHO, A. B. G.; ALVES, T. P. A SÉRIE BLACK MIRROR E OS ELEMENTOS DA NARRATIVA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CONTEXTO DA CULTURA DIGITAL. REVISTA COMMUNITAS, v. 4, n. 7, p. 182-197, 29 maio 2020.
terça-feira, 16 de junho de 2020
Três meses de isolamento social
Hoje completei 90 dias de isolamento social, com uma realidade muito pior do que qualquer coisa que poderíamos ter imaginado. No momento em que escrevo esse texto, já temos mais de 45 mil mortos, sem considerar as subnotificações. Na minha cidade foi necessário aplicar a restrição de circulação de pessoas durante 15 dias. As escolas já haviam retomado as aulas remotamente e as universidades começaram a se organizar para implementar as aulas remotas com criação de semestre suplementar, curso de verão, disciplinas modulares etc. As discussões envolvem não apenas o cenário atual, mas também um planejamento para o futuro pós-pandemia. Na UFPE, as aulas da pós-graduação retornaram na primeira semana de junho e todos se surpreenderam com a disposição dos alunos em retomar as atividades com aulas remotas. Fizemos uma reunião burocrática de abertura do semestre, apenas com informes operacionais e a presença dos alunos foi massiva. Ao final de quase duas horas de reunião, nós queríamos encerrar a atividade enquanto os alunos pediam para continuarmos "porque estava sendo muito bom ver as pessoas novamente". Não somos mesmo preparados para a solidão e o desamparo... Paradoxalmente ao isolamento social, acho que nunca conheci tanta gente como agora em um período tão curto de tempo: professores, coordenadores, pesquisadores, alunos, colegas de infância que se reencontraram nas redes sociais, novos colegas de Yoga... Existe um movimento de aproximação e apoio entre a maioria das pessoas, embora sempre apareçam no caminho os egocêntricos, negacionistas, fanáticos e ignorantes que são um perigo real para a sociedade. O que ficou mais evidente nesse momento é a falta de um pensamento coletivo, o bem-estar da coletividade é responsabilidade de todos, mas isso não parece estar claro para muitas pessoas. Quase como uma ação de escapismo, voltei a ler ficção científica, um gênero que eu sempre gostei, mas que fazia tempo que eu não encontrava tempo ou ânimo para ler. Vou até fazer uma postagem sobre essas leituras porque preciso refletir e contar como elas me apavoraram no lugar de me distrair. A perspectiva de que vamos demorar anos e não meses para chegarmos perto da normalidade do passado tem provocado reações diferentes nas pessoas, mas já vejo um movimento no sentido de repensar muitas coisas na nossa sociedade. Não, não estou animada, tampouco esperançosa. Não acredito em mudanças radicais, as pessoas se apegam a rotina não porque ela é confortável, mas porque acham que a única coisa que elas tem e que conhecem bem. Penso como Arthur Clarke, no final do livro "Sobre o Tempo e as Estrelas":
"- Só nos resta esperar. Não creio que tenhamos que esperar por muito tempo"...
domingo, 31 de maio de 2020
Spread UFPE
Tenho observado muitas discussões na rede sobre o uso das tecnologias digitais como um paliativo para resolver os problemas da suspensão das aulas presenciais devido ao contexto da pandemia e, ao contrário de muitos colegas, escolhi não publicar a minha opinião. A minha decisão tem dois motivos e vou explicar os dois: o primeiro diz respeito ao fato de não ter nenhum dado para emitir qualquer opinião, favorável ou desfavorável. Penso que seria muito apressado fazer afirmações sobre uma realidade que nunca experimentamos ou pesquisamos. Não importa quantos anos de pesquisa sobre a cultura digital ou tecnologias na educação eu tenha, o que está acontecendo agora não tem nenhum precedente na pesquisa acadêmica contemporânea. Qualquer coisa que eu dissesse seria apenas um palpite e as redes sociais já tem um número expressivo de palpiteiros. Decidi observar, coletar dados e contribuir como eu pudesse com a construção de cenários possíveis para a nossa duríssima realidade e isso nos leva ao segundo motivo: tenho uma carga de trabalho enorme atualmente e mal tenho tempo para atender todas as demandas que chegam o tempo todo. Vou contar um pouco sobre elas e como estou contribuindo para o enfrentamento da pandemia no contexto da Educação.
O primeiro desafio que surgiu foi pensar em soluções para resolver a retomada das aulas na nossa universidade. Enquanto as instituições particulares, tanto do ensino superior quanto na Educação Básica, rapidamente migraram para suas aulas online através de plataformas de videoconferências, as instituições públicas tem o enorme desafio de lidar com uma significativa parcela dos discentes que não possuem acesso aos equipamentos e conexão necessários. Assim, a discussão foi mais demorada e a primeira experiência na UFPE será com a retomada das atividades da pós-graduação com aulas remotas. Não vou nem comentar aqui a quantidade de reuniões necessária para chegarmos a algum lugar (que acabou sendo cada programa decide se quer aderir ou não, mas quem quer ficar para trás diante de um cenário de incertezas?). Os alunos de pós-graduação tem prazos muito inflexíveis para concluir, muitos são bolsistas ou estão afastados do trabalho. Suspender as atividades curriculares por muito tempo poderia trazer prejuízos difíceis de prever. Penso que inicialmente os colegas acreditaram que ficaríamos alguns meses sem aulas e que a vida voltaria ao normal dentro de, no máximo, seis meses. Os fatos esmagaram qualquer previsão de retorno e as universidades de outros países anunciaram a suspensão das aulas presenciais em 2020, com previsão de retorno muito incerto em 2021. Agora, no final do mês de maio, algumas universidades já afirmam que só retornarão com a descoberta de uma vacina. Diante desse quadro, o que fazer com os alunos? Ficaremos sem aulas durante um ano, dois anos, indefinidamente? Como formar os professores para realizar o processo de aprendizagem mediado por tecnologias digitais? Como garantir o acesso aos alunos mais vulneráveis economicamente?
Ainda estamos longe de ter respostas para todas essas perguntas, mas já demos o primeiro passo com a decisão de retomar as aulas da pós-graduação. Para preparar a UFPE no enfrentamento de vários cenários possíveis, a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas e Qualidade de Vida (Progepe) e a Secretaria de Programas em Educação Aberta e a Distância (Spread), abriram inscrições para o curso de formação para professores na plataforma GSuit, da Google. Quase mil professores se inscreveram na primeira semana para a trilha básica e a experiência como formadora tem sido bastante interessante. Todos os professores que se inscreveram no curso estão empenhados em descobrir soluções, propor alternativas, apontar as fragilidades da universidade, pensando em construirmos juntos uma alternativa possível para o cenário no contexto da pandemia e até mesmo na pós-pandemia. Está muito claro para todos que não será possível voltar ao modelo que tínhamos antes e precisamos nos antecipar na busca de soluções. Estamos pensando juntos nas possibilidades de uma aprendizagem flexível e realmente inovadora. O preconceito em relação à EAD, a resistência ao uso das tecnologias, as dúvidas em relação ao ensino presencial e suas possíveis adequações com aulas remotas, foram transformados em interesse, reflexão, autocrítica e, sobretudo, disponibilidade para fazer mais e melhor. Como disse uma professora no nosso último encontro, nós apresentamos as possibilidades infinitas de uso das tecnologias digitais no ensino e na aprendizagem, os professores (e provavelmente os alunos) não vão querer mais voltar ao modelo presencial anterior, eu certamente não vou querer. Para alguns pode soar assustador, mas para os meus ouvidos, a fala da professora é musica da melhor qualidade!
domingo, 17 de maio de 2020
Dois meses em isolamento social
Dois meses de isolamento social, dois meses enfrentando uma realidade que nunca imaginei que pudesse acontecer. A curva de novos casos e mortes não para de crescer e é frustrante cumprir as orientações de médicos e cientistas enquanto as pessoas continuam brincando com a roleta da morte porque "não conseguem ficar presas em casa". Na minha cidade praticamente tudo está fechado, lojas, cinemas, bares, restaurantes, praias e parques. Mesmo assim, a prefeitura tem feito ações de fiscalização e fechado lojas que comerciantes teimosos insistem em manter abertas. Padarias, supermercados, farmácias e postos de gasolina continuam funcionando e parece que viraram locais de encontro da população, estão sempre lotados. Sair apenas para o que é necessário não seria tão arriscado se todos usassem o mesmo princípio. Como não é possível confiar no bom senso das pessoas, cada ser humano na rua é um potencial risco de contaminação e mesmo mantendo a distância mínima recomendada, volto para casa com os nervos em pandarecos... O vizinho da minha mãe continuou passeando, bebendo cerveja com os amigos e ignorando qualquer sugestão de isolamento social. Foi contaminado e passou uma semana no hospital lutando para respirar. Teve sorte e voltou para casa, espero que recupere a saúde e a responsabilidade. A primeira pode ser tratada, a segunda não. Minha filha voltou ao trabalho com redução de carga horária e vários procedimentos de segurança, quando ela chega em casa é uma operação de guerra: roupa direto para a máquina (já tira a roupa na entrada), álcool nas maçanetas e no chão, banho imediato. Quando preciso ir ao mercado, a mesma coisa: desinfetamos as roupas, a pessoa e as compras.
Enquanto o mundo luta para salvar a sua população e a economia, vivemos uma situação no país que oscila entre o patético e o assustador. Estou cansada de assistir esse espetáculo mambembe de quinta categoria que nos arrasta para um buraco sem fim. A pandemia já nos exaure mentalmente, ter que conciliar o medo pela sobrevivência com o medo das ações de um genocida ignorante, é demais para mim!
O trabalho continua dobrado, iniciamos o processo de formação dos professores no Google Classroom e já temos mil professores inscritos para dar conta (vou publicar uma postagem só sobre o curso). Não é uma formação fácil, as pessoas estão com medo da realidade que enfrentamos, estão confusas, ansiosas e sem a menor ideia do que fazer... Não basta apenas ensinar como usar as ferramentas, é preciso ter paciência, compreensão e, sobretudo, empatia. Felizmente, isso não tem me faltado durante esse período difícil de quarentena.
sábado, 9 de maio de 2020
Fim da sétima semana de isolamento
Terminamos a sétima semana de isolamento com o pior cenário da pandemia se confirmando no país. Algumas cidades anunciam a necessidade de lockdown enquanto o homem desprezível que está sentado na cadeira presidencial anuncia a realização de um churrasco para mil pessoas. Como diz a atualização do ditado, de onde menos se espera, é de onde não vem nada mesmo. Só podemos contar com as políticas de contenção dos governadores e com o bom senso da população que começaram a ver conhecidos e familiares perecendo com a doença e, infelizmente, só assim perceberam a gravidade da pandemia. Semana passada, com o feriado de primeiro de maio, muitas pessoas pensaram que seria uma boa ideia viajar para as cidades praianas. Os prefeitos precisaram fechar as praias para conter o volume de pessoas que circulavam na cidade, mas mesmo assim, as pessoas lotaram os supermercados, mercearias, farmácias e açougues. Calculem a explosão no número de casos quando essas pessoas retornarem para as suas cidades no interior, muitas delas sem um único leito de UTI. Nós saímos muito pouco de casa e quando precisamos ir ao banco ou ao supermercado, usamos máscaras e nos besuntamos de álcool, evitando tocar em qualquer superfície e mantendo distância de qualquer ser humano. Mesmo com esses cuidados, sempre fico sobressaltada, com taquicardia e sintomas de ansiedade. Volto para casa exausta e passo o dia tentando controlar o meu medo de ter sido contaminada...
A constatação de que não voltaremos tão cedo para qualquer situação próxima da normalidade, começou a servir como motor para a universidade pensar em caminhos para retomar as atividades de aula remotamente. Vamos avançando devagar, mas sólidos porque será inevitável pensar em novas formas de aprendizagem durante a pandemia e depois dela. Especialistas já falam em dois anos de movimento alternado entre isolamento social e retorno parcial das atividades. Enquanto não houver uma vacina para imunizar a população, teremos que conviver com o vírus e reinventar a forma como trabalhamos, consumimos e nos relacionamos com as pessoas. Semana que vem começaremos os cursos de formação dos professores da própria universidade e ainda veremos muitas inadequações no uso das tecnologias na Educação tanto nas escolas da Educação Básica quanto no Ensino Superior. Lamentavelmente, as possibilidades do uso das tecnologias digitais na mediação pedagógica não foram consideradas nos tempo de normalidade e, atualmente, poucos professores e gestores possuem a apropriação necessária para implementar novas estratégias. Terão que aprender fazendo e, embora seja desgastante e extremamente penoso, é um movimento inevitável. Felizmente, ainda podemos caminhar juntos e os professores especialistas no tema estão trabalhando muito para encontrar caminhos que ajudem a todos neste momento.