Ontem finalizei as defesas dos meus orientandos e o que aconteceu nos últimos dois meses está muito distante da rotina comum da pós-graduação. A principal diferença é que os concluintes do doutorado foram alunos que ingressaram no programa exatamente no primeiro ano da pandemia e enfrentaram toda a pressão das incertezas não apenas relacionadas à pesquisa e às aulas, mas também às incertezas da doença, das vítimas e da vacina, que nunca chegava a tempo para nos proporcionar um pouco mais de tranquilidade e normalidade. Houve muitas perdas nesse percurso: vidas de pessoas queridas, trabalho, renda, sanidade, saúde...
É exatamente por causa desse cenário tão caótico e doloroso que estou escrevendo este texto. Caio, Emanuel, Jaciane e Jonara não são apenas nomes de doutorandos (e agora doutores), são vidas que foram afetadas diretamente ou indiretamente por um contexto que continuará a ressoar por muitos anos em nossas vidas, mas eles conseguiram! Mudaram seus projetos, escolheram outros caminhos, mas conseguiram! Estou muito aliviada e orgulhosa dessas pessoas, pois ao olhar para trás, percebo o tamanho dessa conquista. Todos os mestrandos e doutorandos que completaram o curso durante a pandemia mereciam um diploma dobrado!Mas como dizem os biólogos, a vida sempre encontra um jeito e nem tudo foi apenas sofrimento: Caio passou seis meses no Canadá com uma bolsa de doutorado-sanduíche (PDSE), Jonara fez uma visita técnica em Portugal que enriqueceu muito seu trabalho, Emanuel coletou dados que poderão ser úteis para muitas outras pesquisas e Jaciane superou todas as dificuldades para concluir uma tese original e linda. No mestrado, tivemos as dissertações de Aroma sobre cinema e inclusão para pessoas surdas, Rúbia com o uso do Instagram para professores durante a pandemia e Augustinho com o uso do Minecraft para o ensino de Geografia. Além das questões de reconfiguração do trabalho de orientação, fui sobrecarregada com um número excessivo de orientandos, chegando a ter doze na pós-graduação, indo contra todas as recomendações dos órgãos reguladores. Por esse motivo, presidi sete bancas de conclusão nos últimos dois meses: quatro de doutorado e três de mestrado, e confesso que pensei que não daria conta. Só para organizar essas bancas foi um trabalho árduo, pois assim como eu, todos os professores estão muito sobrecarregados.
Não se enganem, o orientador ruim e descomprometido não é a regra, embora nas redes sociais só apareçam esses casos com muitos likes de solidariedade e indignação de quem sequer entende como a academia funciona. Basta fazer uma conta rápida: com sete orientandos concluindo, cada trabalho com aproximadamente duzentas páginas, fiz uma revisão cuidadosa de 1.400 páginas nos últimos 60 dias! E não foram apenas as minhas bancas, participei de várias dos colegas e estimo que li aproximadamente 2.300 páginas nos últimos dois meses! Aqui é como no comercial da Polishop, pensa que acabou? Não, tem mais! Tudo isso foi acumulado com o término do semestre da graduação em três disciplinas, início de um novo semestre na graduação e na pós-graduação, finalização da inserção de dados no Sucupira (sistema de acompanhamento das pós-graduações de todo o país) e a vice-coordenação do programa.
Estou realmente cansada e me perguntando se tudo isso vale a pena. Em relação aos meus alunos, sim, valeu muito a pena! Eles agora fazem parte de mim, não só como professora-orientadora, mas como pessoas queridas que ficarão para sempre no meu coração.
Quanto ao meu trabalho como servidora pública, não valeu a pena porque não há reconhecimento ou valorização do nosso trabalho. Vou fazer concurso para professor titular no próximo ano e certamente, esse será um ponto a ser abordado. Pretendo voltar ao normal a partir de maio, com cinco orientações em andamento e fora de cargos de gestão. Preciso cuidar mais da minha saúde e dedicar mais do meu tempo ao que realmente importa: VIVER!
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