terça-feira, 8 de julho de 2014

Eu e Michael Fischer

A construção teórica de cada um na academia é um percurso absolutamente pessoal, influenciado por vários fatores que variam desde a identificação com uma determinada corrente, até a existência de um guru intelectual. Depois que você estabelece o seu percurso, seus ouvidos ficam sensíveis e ouvir discursos que vão de encontro ao que você pensa provoca dor nos ouvidos, reviravolta no estômago e pontadas no fígado. Já ouvi dizer que algumas pessoas até desmaiam quando são contrariadas em seus pressupostos teóricos e epistemológicos, mas acho que é um exagero. Também sinto dores nos ouvidos e elas estão relacionadas com a insistência de alguns pesquisadores em tratar as tecnologias digitais como uma ruptura total do modelo anterior existente em nossa sociedade. A coexistência está aí, na frente de nossos olhos, seja no percentual da população sem acesso ao computador e internet, seja nas ações cotidianas que não necessitam de tecnologia. Eu prefiro tratar as tecnologias digitais como um processo, como mais um elemento tecnológico que será absorvido, apropriado, reconfigurado, transformado e trocado pelo próximo invento que provocará muitos ahhhhhs, ohhhhhs e teorias sobre como "nunca antes a humanidade esteve tão_______" (complete os espaços com o texto que quiser, vários autores por aí podem ajudar). Atualmente estou debruçada sobre o texto de um antropólogo muito interessante, chamado Michael Fischer. Seu livro "Futuros Antropológicos: redefinindo a cultura na era tecnológica" trata da questão de uma forma quase cínica, embora a leitura não seja fácil. Quem me apresentou o Fisher foi o professor José Ribeiro, meu supervisor do pós-doc e nós dois gostamos muito da seguinte passagem (repetida insistentemente ao longo do livro): "Cultura é aquele todo relacional (1848), complexo (1870), cujas partes não podem ser modificadas sem afetar as outras partes (1914), mediado por formas simbólicas, potentes e poderosas (1930), cujas multiplicidades e cujo caráter performativamente negociado (1960), são transformados por posições alternativas, formas organizacionais e o alavancamento de sistemas simbólicos (1980), assim como pelas novas e emergentes tecnociências, meios de comunicação e relações biotécnicas (2007)". Fischer acrescenta a definição de cultura ao longo do seu texto, inserindo os conceitos mais recentes logo após ao pressusposto anterior, buscando apresentar a lógica de sua perspectiva histórica. É uma boa ironia para discutir o "novo" que surge a cada tendência... Outra passagem interessante do texto: "Os teóricos culturais e sociais voltaram-se para as tecnologias e para as tecnociências em torno dos quais as sociedades contemporâneas se constroem para encontrar metáforas adequadas para a descrição, o exame, a comparação e o contraste dessas sociedades, umas com as outras e com suas predecessoras". Então, como vocês podem ver, não existe ruptura radical nenhuma, muito menos provocada pelas tecnologias digitais. Estamos apenas fazendo mais do mesmo e nos reinventando o tempo todo! "Ba dum tss"...

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bacana o post!
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