sexta-feira, 17 de julho de 2020

Quatro meses de isolamento social

Ontem chegamos aos quatro meses de isolamento com mais de 76 mil mortos e mais de 2 milhões de pessoas contaminadas. Enquanto os casos no Brasil não param de crescer, várias cidades ensaiam a reabertura do comércio e anunciam a volta das aulas presenciais, contrariando todos os estudos científicos e as recomendações da OMS. Na minha cidade abriram os shoppings, mas caminhar na areia da praia continua proibido. A maior parte das pessoas que circula nas ruas usa máscara, mas é possível encontrar pessoas sem usá-las ou criando confusão porque são obrigadas a entrar nos estabelecimentos usando a máscara. O mais grave é que não podemos nos iludir, as pessoas que querem garantir o seu direito de não usar a máscara de proteção hoje e até entram na justiça para isso, certamente lutariam em um segundo momento para que as outras pessoas também não usassem, alegando segurança, desconforto ao ver alguém de máscara ou até mesmo porque as pessoas precisam perder o medo de um vírus que não existe. A ignorância das pessoas é ilimitada.

A irritante resignação ao "novo normal", como se fosse possível naturalizar as mortes, o desemprego e as limitações que a pandemia nos impõe, é deprimente. Por outro lado, também temos a resiliência e a tranquilidade das pessoas que buscam soluções e continuam firmes na luta por uma sociedade melhor. Retomaremos as aulas da graduação de forma remota na UFPE a partir do dia 17 de agosto e, enquanto colunistas escrevem textos agressivos nos jornais questionando a lentidão das decisões na universidade públicas, colegas que são contra as aulas remotas atacam sem o menor senso de civilidade os que acreditam que é necessário fazer alguma coisa, inúmeras consultas são realizadas com professores, técnicos e alunos e a falta de compreensão sobre a gravidade e duração da situação se assemelha aos grupos do WhatsApp que negam a pandemia ou que acreditam que o vírus é uma conspiração do governo chinês. As pessoas não mudam, elas apenas se revelam em tempos difíceis. Penso que tudo está sendo testado, a ética profissional, o compromisso social, as relações de trabalho, as relações familiares, as amizades... Algumas se consolidarão e até se transformarão em algo melhor, outras serão desintegradas. Eu compreendo os dois movimentos como resultado da natureza humana, as relações sólidas vão se adaptar e reorganizar, as relações frágeis ou mobilizadas por interesses, irão de esfacelar não por causa da pandemia, mas sim porque a crise trouxe à tona o que cada um tem a oferecer de verdade. Não há mais tempo para exibir apenas o verniz polido e a capa da boa educação, o medo da finitude revela o que temos na alma. Percebo essa desintegração das pessoas com tanta clareza como se fosse algo sólido e, embora não seja algo bonito de se ver, é necessário enfrentar todos os desdobramentos que a pandemia provocou na nossa tessitura social e nas nossas relações cotidianas. Como eu descobri há alguns anos, a vida é um fio, então viva o seu tempo da melhor forma possível.

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