A pergunta pode parecer estranha, mas foi o que me disse a funcionária do consulado quando entreguei TODOS os documentos exigidos. Menos o diploma do doutorado, é claro! Eu queria muito saber porque algumas pessoas pensam que existe glamour em estudar em outro país. Claro que a experiência é válida e importante, mas o caminho até o nirvana acadêmico é longo e tortuoso, principalmente quando o país de destino parece não querer você lá. O centro do problema está em colocar na mesma condição todas as pessoas que solicitam o visto, seja para estudar, trabalhar ou viver. Você tem que comprovar os meios de subsistência (ok, eu tinha a carta de Capes), o seguro no valor de 30.000 euros (ok, não vou onerar o seu sistema de saúde), comprovante de alojamento (mas eu vou ficar seis meses, tenho que alugar uma casa quando chegar lá!), comprovante de que não tem antecedentes da polícia federal (não vale o da Internet, tem que ser assinado, carimbado e com firma reconhecida!) e mais outros tantos papéis que eu não me lembro. Não pedia o diploma, eu tenho certeza, mas foi solicitado depois da segunda vez em que estive lá. Detalhe: com reconhecimento de firma do reitor, pró-reitor ou sei-lá-quem que tenha assinado o maldito! Voltei para casa, fui até a universidade para saber em quais cartórios os gestores da época tinham firma, fui até o cartório, paguei o reconhecimento de firma e voltei. De novo. Foram três tentativas para conseguir despachar o pedido de visto para Salvador. Me cobraram a taxa de visto de residência temporária, embora o site afirme que existe isenção para quem vai fazer estudos de investigação altamente qualificada, paguei pelo reconhecimento da firma reconhecida no diploma (é isso mesmo!), ouvi reclamação até por ter feito a reserva do hotel pela Internet (oi? Que ano é hoje?)! Pelo visto, não sou tão qualificada assim, vocês não acreditariam nos questionamentos:
- Pós-doc? Como assim? A senhora é qualificada? Tem que apresentar um documento mostrando que a senhora tem condições de proceder com a investigação!
- Mas eu trouxe a carta da Capes! disse eu atônita. O pedido é para um pós-doc (o que pressupõe que eu seja qualificada) e a carta é bem explícita no seu conteúdo e serve exatamente para solicitar o visto e resolver os problemas burocráticos.
- Capes? Ahn... Isso é só um órgão do governo que financia a sua pesquisa, não serve. A senhora precisa comprovar a sua qualificação!
É isso, senhoras e senhores, a Capes é APENAS um órgão do governo... Eu só lembrava da minha querida Thelma Panerai que volta e meia é punida em suas viagens por causa da sua indignação. Recolhi a minha irritação e fui providenciar os documentos exigidos. Depois de entregar tudo, fiquei em dúvida se daria tempo, a passagem estava comprada (porque eles exigem isso para fornecer o visto). A funcionária disse que nada era garantido e que se o visto não fosse entregue no prazo, eu teria que trocar a passagem. Simples assim! Perguntei se eu poderia ligar para Salvador para acompanhar o processo. Ela disse que eles não forneceriam nenhuma informação, que nem adiantava tentar. - A senhora vai ter que esperar, concluiu, seca, amargurada e sem nenhuma intenção de facilitar a minha vida. Passei as quatro semanas seguintes estressada, correndo atrás das outras pendências e morrendo de medo de tudo dar errado. No auge da minha angústia, resolvi ligar para Salvador, morrendo de medo de receber uma resposta atravessada. Vai que eles cancelam o meu visto por causa disso? Liguei e para a minha surpresa, já no menu existia uma opção para acompanhamento dos pedidos de visto. Ué, mas ela não me disse que eles não forneciam informações por telefone? Atendeu uma mulher, gentil, simpática e prestativa. Disse que o visto já tinha sido aprovado e que seria despachado uma semana antes da viagem. Eu podia ligar no dia previsto para o envio para saber. A funcionária não deve ter entendido nada porque eu agradeci quase chorando, muito obrigada, minha senhora, muito, muito, obrigada! Desliguei e dancei pela sala, feliz da vida e encantada com o tratamento! Mas vamos supor que eu estivesse sendo dura e ressentida, vamos supor que eu dei sorte naquele dia e peguei uma funcionária inexplicavelmente amável. Liguei de novo no dia combinado e foi um homem que atendeu. Perguntei sobre o visto e ele foi tão (ou mais) simpático quanto a outra funcionária, disse que o visto tinha sido despachado e já tinha sido entregue no Recife (mas ninguém do Recife me ligou para avisar). Terminou a ligação com um "pode ir lá buscar, Pimentinha!". Fui buscar o visto dois dias antes da viagem e acreditando que eu apenas dei azar nas TRÊS vezes em que estive no consulado. Ledo engano... Cheguei lá e encontrei o mesmo tratamento. Passei a mão no passaporte e fui embora com uma certeza: tomara que eu nunca mais precise voltar aqui!
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