Parece um clichê, mas é verdade, um dia você está fazendo planos, rindo, conversando e, no outro, tudo acabou. Sem possibilidade de argumentação, reclamações ou revisão. Não dá tempo para nada, só em filme americano as pessoas conseguem se despedir, pedir perdão, contar o segredo revelador... Não é assim na vida real, aqui não deixam você ver seu marido (mesmo que ele esteja piorando), não existe compaixão ou solidariedade. Quer dizer, existe sim, mas só depois da morte, quando já não adianta mais nada... Eu sempre penso em todos os cenários possíveis na minha vida com caminhos alternativos, mas nunca pensei nesta possibilidade. Revendo a nossa história, posso dizer que não era para terminar assim (ou, pelo menos, não devia terminar assim). Tentamos fazer um funeral discreto, com velório em João Pessoa e enterro rápido, mas foi impossível (tentamos vírgula, eu não tive condições sequer de pensar na palavra enterro). A notícia foi divulgada nas rádios, colocaram carro de som nas ruas e tudo fugiu ao controle. O velório foi no teatro da cidade, alunos e professores viajaram de Campina Grande para prestar uma última homenagem. E que homenagem! Meninos e meninas com 15 anos, abalados, tristes, que fizeram questão de se despedir do professor. Toda a tortura e o peso do momento se dissolveram nas palavras daqueles meninos, no discurso do Diretor de Ensino do IFET e na bela música cantada pela professora de Matemática que trouxe de suas raízes judias um belo poema para fazer a sua homenagem. O maior estresse, além de ouvir e ver pessoas indesejadas, foi a pressão para levar a minha filha ao enterro. Céus, ela não tem cinco anos ainda! Mais uma vez percebo o choque de culturas, aqui a presença de crianças nos enterros é uma prática comum e as pessoas insistiam que se ela não visse o pai iria ter problemas terríveis pensando que foi abandonada. Desde o primeiro momento em que conversei com ela, na mesma hora ela compreendeu que não o veria mais e chorou copiosamente até dormir.Sinceramente, não acredito que materializar uma cena tão terrível a ajudaria em alguma coisa. No meio do caos, ainda é preciso respeitar a crença dos outros e ser firme para que os outros respeitem a sua. Firme, enquanto tudo dentro de você parece desmoronar... Ao final de tudo, a tarefa mais difícil: voltar para casa e enfrentar a ausência e o vazio. O mais surpreendente é que seguimos vivendo, respirando, andando, comendo, porque não há mais o que fazer, é preciso viver.
3 comentários:
Beatriz,
sei que você não escreveu isso para fazer chorar. Porém, foi difícil terminar a leitura sem lágrimas nos olhos. Lembrei da época em meu pai foi embora daqui,e passei situações bem parecidas. Porque, afinal, é mais do que necessário se despedir e existencialmente passar pelo luto. Você se vê obrigado a fazer sala para os outros quando na verdade é preciso discrição e tranquilidade. Nestas horas, infelizmente, tornar a dor alheia um espetáculo toma o lugar do bom senso. Vivei isso quando estava ho hospital e fui obrigada a receber gente que queria ver a professora Alásia toda paralisada - gente desconhecida. Pra mim foi impactante e te imaginei na hora de ir deitar, com tantas lembranças persistindo. Pensei em te ligar ou ir aí, mas imagino que ainda há muitos curiosos inconvenientes querendo saber tim por tim. É duro, mas essa amolação passa. Pelo post dá pra sentir - de longe - tua angústia e sensação de sufocamento.
Não quis ser incoveniente. Estou por aqui, na web, no celular, na Paraíba, tá.
Desejo que você supere e filtre esse episódio. Fique com as lembranças amadas e bem para o maravilhoso "pedacinho" de vocês dois - Mariazinha.
Querida Alásia,
Quando eu escrevi pensava apenas em desabafar, eu costumo processar melhor os acontecimentos quando escrevo sobre eles. A vida é tão complexa... Fique sempre à vontade para ligar, você é muito bem vinda!
Beijos
Professora,
é realmente algo muito triste e palavras infelizmente não diminuem o vazio que foi deixado.
Desejo paz e meus melhores sentimentos.
Abraços! =(
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