terça-feira, 16 de novembro de 2010

O vale das baleias, ciência e religião

Eu gostava muito da revista National Geographic quando estava na graduação, mas a medida que fui aprofundando os meus estudos em Geografia, a revista deixou de ser interessante. Hoje, eu encontrei uma reportagem tão bela e intrigante na revista que fiz questão de registrar aqui. O texto é de Tom Mueller e as imagens de Richard Barnes. Acreditem, vale muito a pena! O deserto egípcio, que já foi um oceano, hoje guarda o segredo de uma das mais extraordinárias transformações evolutivas. O uádi Hitan - literalmente, "vale das Baleias" - revela uma fantástica abundância dessas pedras de Roseta da biologia. Nos últimos 27 anos, foram descobertos ali restos de mais de mil baleias, e um número ainda maior pode ser achado.Os fósseis são uma pista crucial para entendermos como as baleias modernas, essas máquinas bem adaptadas à natação, podem ser descendentes de mamíferos terrestres que antes caminhavam com quatro patas. Philip Gingerich devotou grande parte de sua carreira a explicar tal metamorfose, possivelmente a mais intrigante do reino animal. E, ao fazer isso, mostra que as baleias, um dia celebradas pelos criacionistas como o melhor indício contra a evolução, talvez sejam a comprovação mais elegante do processo darwiniano. Graças sobretudo a Philip Gingerich, o registro fóssil das baleias hoje proporciona uma das comprovações mais assombrosas da evolução darwiniana. Ironicamente, o próprio Gingerich cresceu em ambiente rigidamente cristão, em uma família de menonitas amish no leste do estado de Iowa. Todavia, na época ele não sentiu nenhum choque entre fé e ciência. "Meu avô tinha uma atitude aberta no que se refere à idade da Terra", conta ele, "e jamais mencionava a evolução. É preciso lembrar que eram pessoas de grande humildade, que só opinavam sobre aquilo que conheciam bem." Gingerich ainda fica perplexo com o fato de tanta gente ser afetada pelo conflito entre religião e ciência. Na minha última noite no uádi Hitan, caminhamos um pouco sob o céu estrelado perto do acampamento. "Nunca fui especialmente devoto", diz ele. "Mas acho que meu trabalho tem um aspecto bastante espiritual. Só de imaginar aquelas baleias nadando aqui, o modo como viviam e morriam, e como o mundo mudou desde então - tudo isso o põe em contato com algo bem maior que você, sua comunidade ou sua existência cotidiana." Ele então abre os braços abarcando o horizonte escuro e o deserto com as esculturas de arenito criadas pelo vento e os incontáveis fósseis de baleia. "Aqui há espaço para toda a religião que alguém possa querer."

2 comentários:

Amanda Costa disse...

O cemitério das baleias é tudo! Merece um objeto de aprendizagem interdisiplinar (ciências + geografia)!

Ana disse...

Amandita,

Estou cheia de ideias sobre isso para o próximo ano! Vamos trabalhar muito...

Beijos,

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