terça-feira, 8 de março de 2011

Mulheres na academia

Já faz um tempinho que eu queria escrever sobre as mulheres na academia, principalmente depois que participei de uma discussão na qual as pessoas afirmavam que existe um preconceito institucional que impedia as mulheres de progredir na carreira acadêmica. Detesto ter que desapontá-los, mas não há. Não estou dizendo que a carreira acadêmica seja fácil para as mulheres, tenho clareza de todas as dificuldades que enfrentamos para conciliar a vida familiar e a academia. Porém, eu trabalhei muitos anos na iniciativa privada em cargos de direção e a minha sensação hoje na Universidade é que estou completamente livre. Eu também vivenciei os problemas da maternidade durante o mestrado, um quadro de pré-eclâmpsia fez com que atrasasse a defesa e na época sequer existia prazos maiores para mulheres grávidas. Na minha área (ciências humanas), os homens são minoria, mas vejo os meus colegas desempenhando tarefas iguais e não conheço mecanismos burocráticos que privilegiam os homens. Obviamente, a academia faz parte da sociedade e as questões sexistas também estarão presentes nas relações. Volta e meia um aluno (ou aluna) diz que a professora agiu assim ou assado porque é mal amada, louca, infeliz no casamento etc. Vivenciando a realidade de um departamento constituído por 97% de mulheres, não posso dizer que sou discriminada. Hoje, via twitter, recebi um link do meu amigo Robson Freire para uma excelente reportagem intitulada Mulheres cientistas ainda sofrem com estereótipos no meio acadêmico. São dados da UNESP e apresentam um panorama da mulher nas universidades com algumas sugestões interessantes para facilitar a nossa vida na academia. Flexibilidade no horário, um local para deixar as crianças nos congressos, incentivos para cargos administrativos, são excelentes propostas. Porém, não concordo com percentuais para mulheres nos editais de pesquisa porque não acredito que o resultado dependerá do gênero do autor. Modernizar o pensamento das agências de fomento colocando pessoas mais inovadoras para substituir o pensamento conservador, pode ser mais eficiente (e urgente) do que apenas criar índices de aprovação para mulheres em projetos e artigos. Rever os sistemas de avaliação dos programas que privilegiam a pesquisa e não o ensino, seria mais interessante para nós, já que as pesquisas indicam que as mulheres estão mais concentradas nas atividades de ensino e orientação. Enfim, a discussão sobre as mudanças necessárias na academia passam também (e não apenas) pela questão de gênero. Como eu disse na lista de discussão, eu seria leviana se concordasse com a existência de entraves institucionais quando eu sei que todas as decisões na academia são realizadas através de discussões e intermináveis reuniões com votação direta. Se o sistema de participação na tomada de decisões já existe, talvez esteja na hora de nós mulheres fazermos melhor uso dele e colocarmos mais mulheres nos níveis decisórios da academia e nas agência de fomento.

2 comentários:

Morena de Angola disse...

Beatriz, concordo em parte.
Acho que questões relativas a maternidade parecem de fato estar bem dissolvidas, mas observo que a cultura local talvez influencie junto com outros condicionantes. Me parece que quanto mais importantes forem os cargos administrativos, menor a ocupação feminina, pq mulher ainda é vista como "bicho traiçoeiro", que gera desconfiança, etc...
se não se arruma é porque é mal amada, se se arruma demais é pegadora. Entre mortos e feridos, acho que sobram a "categoria" das frígidas, circuncidadas, ninfomaníacas, metasexual, etc...

Ana disse...

Alásia,

Acho que em cada contexto os comentário podem ser piores para as mulheres porque vai depender do machismo/sexismo de cada local. Até mesmo dependendo da área do conhecimento, o padrão pode ser mesmo diferente. Não foi à toa que no próprio CE da UFPB, uma aluna foi barbaramente agredida por um vendedor de cartão de crédito. Daí é preciso pensar o quanto que a instituição é influenciada ou compactua com o sexismo que existe na sociedade. Penso que é contra isso que temos que lutar.

Beijos,

Ana

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