terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Edupunk e a Educação a Distância

O João Mattar levantou a questão do movimento Edupunk no último #eadsunday e não pude deixar de pensar no significado real do movimento voltado para o ensino superior e no seu impacto na educação a distância. O fato é que a EAD surgiu como uma modalidade que poderia modificar a forma de aprendizagem através do seu agregado tecnológico. As tais tecnologias (chamadas de "novas" por um bom tempo) surgiram como uma espécie de cura para todos os males da educação. A prática vem apontando para o contrário e o movimento Edupunk explica o desconforto dos alunos com o uso que vem sendo feito das tecnologias digitais, especificamente nos ambientes virtuais de aprendizagem. Mas como podemos definir o Edupunk? No blog do Juan Freire, encontramos a explicação que Edupunk é uma aproximação com as práticas de ensino e aprendizagem abordagem baseada em um Do It Yourself (faça você mesmo). Embora o conceito seja recente, identifica um conjunto de atitudes, da comunidade e aplicações de tecnologia que são tão antigos quanto a própria Internet e viveu um desenvolvimento extraordinário nos últimos anos, paralelamente com a explosão da Web 2.0. No blog Cibercrítica encontramos algumas considerações interessantes no post intitulado Edupunk. Que Deus salve os pedagogos! (não pude deixar de pensar nos meus colegas de departamento...). A importância do movimento Edupunk para uma reflexão sobre a EAD está nas origens do movimento que é desencadeado a partir de uma pesada crítica de Jim Groom (foto), um especialista em tecnologia educacional e professor da Universidade de Mary Washington, na época do lançamento do software proprietário Blackboard. Embora a crítica esteja centrada no uso de uma plataforma (ou Learning Managemant System) fechada, Groom sugere que o uso de aplicativos livres no formato de autoria da Web 2.0 seria muito mais interessante para a aprendizagem dos alunos. Fiquei surpresa porque em 2006, fiz uma pesquisa com os alunos do curso de graduação a distância que usavam o Moodle e muitos argumentaram que não usavam o ambiente com mais frequência porque "não podiam propor nada na plataforma, apenas seguiam o que o professor colocava". Ou seja, o Moodle, por mais construtivista que pretenda ser, permite que o aluno apenas reaja aos movimentos propostos pelo professor, ele mesmo não pode interferir ou redesenhar o modelo instrucional proposto nas disciplinas. O aluno responde ao fórum, mas não pode criá-lo e toda forma de participação está restrita aos espaços virtuais coadjuvantes e não no eixo principal. Estamos reproduzindo o processo de educação presencial convencional, as relações de poder continuam estruturadas com o papel do professor como principal trasmissor de informações, enquanto os alunos permanecem passivos. Queremos que os nossos alunos respondam ao que foi perguntado nos fóruns, mas não queremos que eles criem seus próprios fóruns ou desviem-se das questões abordadas. Utilizamos o AVA para criar uma nova roupagem cibernética para as velhas práticas e nos consideramos modernos, atuais e inovadores. Na proposta do Edupunk se pretende identificar os novos papéis que devem desempenhar nestes processos de aprendizagem favorecendo a iniciativa dos alunos e suas habilidades criativas e inovadoras. Agora os estudantes estão ativos em cursos como os parceiros e colegas na construção do saber docente como estratégia de aprendizagem. Os alunos devem participar ativamente no processo de aprendizagem e deve trabalhar entre si e com professores que trabalham individualmente e em equipes. Uma das queixas mais frequentes nos cursos a distância é o silêncio virtual dos alunos e a baixa participação no AVA. Está na hora de cutucar o leão com a vara curta e realmente buscarmos as respostas para a apatia dos alunos. Afinal, queremos formar autores ou reprodutores?

5 comentários:

Anônimo disse...

Sabe Profª Beatriz, hoje como aluno de EAD, vejo que, para o ensino-aprendizagem fluir a ponto de atingir o seu "òtimo" nessa modalidade de ensino, tem se tornado uma faca de dois gumes, no que diz respeito a apatia ao AVA. De fato, ainda a maioria dos alunos não são tão presesnte nos AVA's como se espera, no entanto, começo a perceber também que essa apatia está se estendendo a alguns professores (são poucos graças a Deus). Tenho levado alguns "baldes de água fria" quando tenho tentado interagir com alguns professores, que as vezes dão um feedback depois de semanas e alguns nem dão sinal de vida... isso, de certa forma, desmotiva o aluno. Por outro lado, e não poderia de frisar, existem professores que praticamente "nos adotam" pelo AVA e nos dão todo suporte que precisamos. Costumo dizer que esses professores são dignos de aplausos e honrarias rsrsrsrsr. Normalmente, as pessoas que amam o que fazem, nos chamam a atenção pela excelência do trabalho que realizam, e na EAD isso também fica explícito. Na minha opinião, os profissionais para atuarem em EAD, além da qualificação, precisam ter como característica principal o espírito de educador.


Abraços querida!

Edivaldo Júnior,Campina Grande - PB.

Ana disse...

Edivaldo,

É isso mesmo, o ambiente virtual e a EAD reproduzem o perfil do professor. O principal aspecto desta discussão é que o uso das tecnologias digitais não muda a concepção de aprendizagem do professor. Se for conservador e autoritário, continuará sendo no AVA, na videoconferência, seja onde for. Você colocou muito bem, temos verdadeiros anjos na arte de ensinar que fazem mesmo a diferença. Acordo todos os dias desejando ser um deles.

Um grande abraço,

Sérgio Lima disse...

Opa Ana,

O fato dos alunos não poderem criar um forum no moodle é problema de má (?)configuração... na verdade é possível ajustar as permissões para que os alunos possam fazer várias coisas, ou até mesmo "hackear" colocando todo mundo como professor do curso :-)

Mas no geral, acho que os LMS realmente repetem a metáfora da escola hierarquizada nos meios digitais.

Por outro lado, também não adianta nada ter um ferramenta que flexibilize o que os alunos podem fazer se a cabecinha dos "gestores do curso" for da "era industrial".

Tome como exemplo que tem gente que consegue "burocratizar" edublogues, que dirá um LMS!


PS: Você tinha que conseguir uma promoção da Azul para vir a Campus Party :-)

abs

Ana disse...

Pois é, a leitura sobre o Edupunk me deixou com a pulga atrás da orelha porque precisamos ficar atentos com as armadilhas que a tecnologia também nos proporciona. Vou acompanhar vocês online e me organizar melhor para o próximo ano.:)

Beijos

Silvio Barbieri disse...

Sem dúvida muito oportuno o texto. O foco na tecnologia parece ser a solução de todos os problemas da sociedade não é? (a escola o reflexo da sociedade ver Marilena Chauí). Nos últimos dois anos tive uma experiência com EAD que realmente me transformou: -Ao contrário da distância fiz o seguinte, me aproximei dos alunos e tentei entender o que taziam consigo, digo, suas experiências de vida, a biografia deles. Bem, cheguei a algumas conclusões: - a primeira é que muitos alunos são avessos à tecnologia e precisam ser amparados, - a segunda é que muitos alunos traziam um problema do seu dia-a-dia (da empresa ou da vida) e queriam um aconselhamento pessoal, uma conversa, serem ouvidos. Daí comecei a entender o desempenho deles e fui ajustando o ritmo de vida deles ao ritmo da EAD.

Forte abraço

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