
Este post não está relacionado com os temas habituais do blog, mas o assunto transita na questão da educação e do uso das tecnologias digitais. Com relativa frequência (bem mais do que eu gostaria) algumas pessoas surgem nas listas de discussão se queixando da cópia de seus textos em outros espaços da web. É um assunto que me interessa por ser professora - e lidar com as "cópias"- e com o processo educativo de orientar o aluno a usar o seu próprio texto. Outra questão importante está na relação entre quem é copiado e quem copia, já que são frequentes as desculpas esfarrapadas dos plagiadores quando são confrontados. Copiar um texto ou uma idéia sem fins lucrativos já é bem ruim (se bem que o conceito de lucro pode varia muito, tirar uma nota boa apresentando um trabalho copiado também é uma forma de lucrar), mas imaginem quando um trabalho voltado para o cuidado do fazer manual é copiado para ganhar dinheiro. O movimento craft está relacionado com o fazer manual, a sustentabilidade e o compartilhamento de ideias e técnicas, virtualmente (através de comunidades) ou presencialmente. Surge aqui um contraponto interessante, compartilhar significa ajudar a melhorar o trabalho do outro, crescer, progredir, relativizar, e não copiar. A cópia é sempre um retrato esmaecido do original, para compartilhar é necessário querer melhorar, buscar a autenticidade e manter-se sempre em movimento. Quem copia está parado, estagnado, condenado a viver em uma prisão de ideias fragilizadas porque pertencem aos outros. Pode até fazer sucesso, mas não consegue sustentá-lo. Seja no movimento craft, seja no meio acadêmico, ou mesmo nos blogs do mundo virtual, o conceito de plágio é o mesmo, e sempre causa muito sofrimento nas pessoas que têm as suas ideias roubadas. Para exemplificar melhor esse sentimento, reproduzo aqui o post do Corrupiola, que enfatiza o papel das comunidades virtuais no processo:
"Em uma entrevista, nos perguntaram: Qual é o lado positivo de ser inovador? E o negativo? O positivo, sem dúvida é o reconhecimento do trabalho envolvendo a trajetória, o processo e o resultado, a resposta positiva do cliente e a motivação no aprimoramento de cada peça. O lado negativo é quando você descobre que está sendo copiado…Desde agosto deste ano nos avisaram (através da comunidade craft) do aparecimento de uma marca com uma estranha “semelhança” com os produtos da Corrupiola. E para nossa surpresa, descobrimos outro blog não somente com a cópia de nossos produtos e ideias, mas também de textos, preços, frases e principalmente o nome “experiências manuais” ligado à marca. Entramos em contato, dizendo que o processo craft não se forja, ele se constrói. Sem resposta direta, ocorreu apenas uma explicação através de comentários já apagados no blog, de que seus produtos eram diferentes dos nossos porque eram furados de forma diferente (caráter muito peculiar!). A outra marca tirou o experiências manuais do nome e vende a falsa ideia da criação de algo inovador. Associam a impressão offset (em gráfica própria) com craft e dizem que os produtos são 100% handmade. A cópia é mais rápida e prática, esta marca e seus produtos são exemplos ruins de craft, pois exatamente um mês após adquirirem os produtos da Corrupiola, lançaram uma “nova” coleção de cadernos “próprios”.Mas qual é o principal objetivo do movimento craft? É minimizar o impacto do ser humano e sua produção industrial sobre a terra através do processo manual, agregando a reciclagem, a reutilização e não a reprodução em série. É um movimento interessado em humanizar o consumo, prezando pela autoria do produto. Daí cabe ao exigente comprador craft confiar na honestidade de quem produz, na origem da matéria prima e na originalidade da peça adquirida.Os participantes da comunidade craft compartilham ideias e incentivo através das mídias sociais e juntos formam uma nova economia e trabalho em rede. E felizmente esta comunidade está bem unida e antenada sobre o mercado desleal de pessoas que vendem ideias falsas sobre trabalhos manuais ou copiam ideias de outros crafters. O lado bom é que estamos recebendo mensagens da comunidade a respeito deste episódio envolvendo a Corrupiola e seu cover.É importante frisar que nesta nova economia não há espaço para a competição e sim para a união e troca de ideias. Há lugar para todos, desde que sejam originais ou tragam novos valores ao produto referenciado. É por isso que a Corrupiola leva mais tempo para lançar novos produtos, pois nos preocupamos em não utilizar o caminho fácil da cópia e procuramos criar algo diferente do que já existe no mercado. Se no início usamos o cahier da Moleskine como ponto de partida, foi pela admiração ao produto e a partir dele fizemos experimentações que nos distanciam do famoso caderno. Um bom distanciamento que passa pelo caminho da referenciação. Outros ótimos exemplos de crafters criadores de notebooks no Brasil, só para citar alguns: Viváskine, Alpharrábio, Zoopress, Cau feito à mão e muitos outros".